KILUMBA MUMBUNDU A donzela negra
KILUMBA MUMBUNDU
A donzela negra
Quando jovem ele era traficante de escravos em Angola. Convencia os
negros a entrarem em navios para ir ao Brasil para ver novamente seus
parentes e amigos. Chegando no Brasil eram algemados e escravizados nas
fazendas.
Decidiu largar a vida de comerciante de escravos e foi morar no Brasil
onde se tornou fazendeiro. Ocupando o lugar de seu pai, o qual era grande
latifundiário no Brasil. Plantava ele café e cana de açúcar.
Seu pai estava velho com 65 anos de idade. A mãe já havia morrido. Seus
dois irmãos tinham suas vidas na Europa um era padre e o outro Juiz.
Ele decidira ser mesmo fazendeiro. Não se casara ainda. Passou a vida em
aventuras de navio entre o Brasil e a Africa recrutando negros para os
fazendeiros do Brasil. Nunca achou aquilo ser correto, mas na época é o
que dava dinheiro.
Foi nessa época que chegaram de navio para a fazenda de seu pai duas
jovens negras irmãs. Elas não falavam português, falavam quimbundo.
Uma delas foi trabalhar nos serviços domésticos na casa grande.
Ela era bonita. Sorriso bonito. Dentes brancos. Jovem, deveria ter uns 18
anos. As mulheres brancas não o agradavam. Elas eram cheias de frescura.
Homem não gosta de mulher fresca. Está não é uma história de santos.
Era uma mulher bonita. As mulheres negras tem mais corpo que as
brancas. Seios bonitos, bumbum escultural. Belo corpo. Escultura humana.
A pele negra dela brilhava. ela tinha negrura ou umbundu Um pele macia e
delicada. Uma mulher de quadril largo. Claro que o senhorzinho não era
bobo. A jovem negra chamava ele de kangana que significa senhorzinho.
Um dia ela foi colher espigas de milho para fazer o mucunza quando o
Herculano apareceu no milharal. Ele começou a ajudá-la a colher espigas e
colocar las em um cesto de palha. A pretinha parecia assustada. Uma velha
negra já falante do português disse: “ a moça está assustada sinhozinho.
Ela não fala sua língua. O sinhozinho gostou da moça. Eu não sou boba.”
Herculano: Eu morei muito tempo em Angola. Sou branco falante do
quimbundo.
Herculano disse a moça no idioma quimbundo que ela era bem vinda.
Ela nada respondeu. Ele continuou a ajudá la e foi com outros escravos
levar os cestos de milho na senzala.
Os negros logo desconfiaram. Branco trabalhando era coisa rara. Alguma
coisa o jovem branco queria em troca. Na certa era mulher. As negras mais
bonitas iam fazer entretenimento aos jovens brancos. Essa negrinha podia
trazer problemas. O amor sempre traz problemas.
Um dia a jovem negra foi levar café para o jovem em seu quarto. Ele já a
aguardava. Fechou a porta do quarto e a acariciou levemente e a beijou.
Os dois ficaram assim um bom tempo. Ela foi voltou as suas tarefas.
A velha negra já conhecia bem a vida. “ você menina, está alegre. Sorrindo
a toa. Isto é amor. O amor é bom, mas faz a gente sofrer. Não se engane.
Você não vai ser feliz aqui. Aqui você é escrava. O sinhozinho vai usar
você e se divertir. Depois você vai sofrer. Vai ter filho dele. Ele vai fazer
você abortar. Aqui negro é proibido casar com branco. Esquece esse
homem.” jovem é teimoso. Jovem não escuta conselho. Jovem é cabeça
dura. Jovem é sonhador. Pensa que a vida é fácil. É só imaginar e pronto.
A negrinha era inteligente e já estava falando bem o português. Um
encontro aqui e outro ali. O velho já desconfiava que seu filho gostava da
menina. Ele dava mimos para a negra roupas bonitas, brincos e dias de
folga do trabalho. O velho desconfiava que ela dormia no quarto com ele.
Resolveu repreender o filho: “ você está louco? Enlouquece? Acha que sou
burro? Acha que sou idiota? Sei que está namorando com a menina negra.
Quer destruir minha vida? Namorar uma escrava? Quanto mulher branca
solteira. Vai engravidar essa escrava? Este relacionamento não tem futuro.
Se ficarem sabendo o que será de nós?”
um homem branco naquele tempo não podia ser casar com uma negra.
Herculano disse a seu pai que amava a menina e queria casar com ela.
Senhor Januário: “ casar-se com uma negra, uma escrava, meu Deus. Você
está louco”
No mundo daquele tempo isto era loucura. O homem que fizesse isto
perdia suas propriedades, era preso e condenado a morte.
Tempos depois, seu pai morreu de infarto. Já era velho. Kilumba foi viver
com Herculano na casa grande. Ela teve um filho o Fernando. Este era
brasileiro. Mulato, mestiço fruto do casamento inter racial.
As outras negras ficaram com inveja dela e queriam nela bater quando
viram na vestida como sinhazinha. Ela tinha professores ao seu dispor.
Estava aprendendo a ler e escrever. Tudo parecia bonito para ela.
Naquele tempo, as casas ficavam distantes umas das outras e ninguém
sabia o que de fato o que acontecia na fazenda São Bartolomeu.
Até que um dia a noticia se espalhou pela região. Um branco fazendeiro
era casado com uma negra de senzala. Seus escravos recebiam salario e
tinha dois dias de folga.
Herculano escondia tudo quando visitas chegavam. Ele sabia que se o
padre e os juízes soubessem, o fariam saber ao governador e logo a coroa.
Era morte certa. Herculano desmentia tudo. Tudo ficava bem. Os vizinhos
sabiam que ele era um branco solteiro.
Um dia a velha negra foi conversar com Kilumba.
“ Foram os deuses africanos que te abençoaram negra. Eles te deram um
corpo bonito e amor no coração. Você deve agora ajudar teu povo.
Você é uma princesa. É bonita e educada. É branca e corpo de negra.
Era seu destino conhecer este homem. Vocês vão muito sofrer.
Dentro de alguns anos sua vida mudar. Lembre-se de continuar até o fim”
Quando Kilumba ia para o terreiro Herculano ia junto. Ele gostava de ver
as negras dançando. Elas eram bonitas. E rebolavam um samba. Elas eram
felizes. Mulher que rebola deixa um homem maluco. Mulher bem dotada
pela natureza e com perfumes depois de um banho pode enlouquecer
completamente um homem. Mulher perfumada. Crescia o menino sem
entender o mundo. Ele achava normal o fato de ser branco e sua mãe
negra. Pensava ele que todos os brancos eram bons e que todos os negros
eram bons. Bondade e maldade não tem cor de pele.
Um belo dia quando foi para a missa ele viu uns meninos brancos
zombando de velho negro. Ele foi defender o velho. Disse que sua mãe era
negra. Eles muito riram dele. Ele saiu correndo e chorando.
O menino foi perguntar a seu pai porque o mundo era assim cheio de
maldade. “ pai, o que é branco? O que é um escravo?”
Crianças não sabem o que é a cor da pele. Elas brincam umas com as
outras.
Tudo ia aparentemente tranquilo. Quando o menino Fernando começou
ouvir histórias sobre seu pai, que ele foi um grande comerciante de
escravos. Ele começou a olhar seu pai de modo diferente. Como podia um
homem tão bom ter sido comerciante de escravos. Deveria ser mentira.
O menino muito chorou, ele estava descobrindo a vida.
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Grande revolta de escravos surgiu no Brasil colonia. Os negros se
rebelavam e matavam seus senhores. Se refugiavam nos quilombos.
O governador enviou tropas para aniquilar os quilombos e enforcar o
negros rebeldes. Nesse tempo havia muitos brancos de condição humilde
casados com negras. O Brasil já era mestiço. Para um homem da alta
classe isto era inaceitável. Esse foi o erro de Herculano e sua Kilumba
abrigar negros fugidos procurados pela policia da colonia.
Os bandeirantes andavam pelas florestas quando chegaram na fazenda de
Herculano. Eles viram negros vivendo em liberdade. Mataram muitos
deles. Inclusive a velha negra Nzuriana.
Kilumba fora capturada. Herculano fora preso por ajudar negros fugidos
do cativeiro. Herculano fora levado a julgamento e enforcado em praça
publica e esquartejado. Kilumba foi colocada nua em um tronco na praça
pública e chicoteada, em seu belo rosto foram feitas cortes para serem
cicatrizes, em seus belos seios fizeram o mesmo e queimaram lhes as
partes intimas. Quando batiam nela perguntavam : “gosta de transar com
branco ? negra safada” Ela foi reconduzida ao cativeiro em outra fazenda.
Na senzala morreu de tristeza. Ela não queria se alimentar e morreu de
inanição. Foi ficando fraca e logo morreu. Foi enterrada no cemitério dos
escravos. Os negros cantavam belas músicas no dia de seu enterro.
Afirmam que viram seu espirito ser abraçada pelo espirito de Herculano.
O Fernando filho de Herculano e Kilumba era branco então foi levado ao
convento para ser Frade. O menino chorava muito. Queria o pai e a mãe.
Ele não sabia o que acontecia no mundo. Os padres logo lhe trataram de
contar toda a verdade.
“ meu filho, há muitos séculos atrás os homens ricos e brancos da Europa
decidiram trazer seres humanos negros da África para trabalharem em suas
fazendas no continente americano. Nem todos os brancos possuem
escravos, eles custam caro, é preciso um exército para discipliná-los e
controlá-los. Nem todos os brancos são maus. Seu pai foi comerciante de
escravo, ele nunca foi um homem mau. Nunca concordou com a
escravidão até que se apaixonou por sua mãe e foi viver com ela. Nem
todos os negros são bons. Quando eles fogem das fazendas se refugiam em
quilombos e ficam vivendo de roubar e matar, vivem muitos praticando
crimes por isso são procurados pela policia. Você nasceu no meio dessa
guerra, você não tem culpa. Você é fruto do amor de duas pessoas
diferentes. Não tem ódio de ninguém”
o menino cresceu e foi estudar. Se formou padre e depois foi ser advogado.
Decidiu ele lutar contra escravidão através das armas. Foi morar em um
quilombo. No iniciou os negros não queriam aceitá-lo. Depois ficaram
eles sabendo que, de fato, era ele filho de sinhazinha Kilumba.
Ele não gostava de branquela. Decidiu ele logo se casar com uma negra
fértil, com a qual teve 16 filhos. Naquela época as pessoas tinham muitos
filhos. Não existia televisão. Moravam eles na antiga fazenda de seu pai
que ficara abandonada. Assim surgiu o povo brasileiro. Do quintal de uma
fazenda. Da relação do branco com o negro principalmente. Também do
branco com o índio.
O advogado defendia negros em processo de liberdade.
A história da humanidade é suja. Fernando era contra a criminalidade.
Pensava que os negros tinham de aprender a trabalhar e plantar, não apenas
roubar.
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Certa ocasião um grupo de bandoleiros negros invadiram uma casa de
ricos brancos. Nela vivia um fazendeiro e suas quatro filhas.
Eles roubaram moedas de ouro.
Usavam eles chapéus e mascaras no rosto. Andavam armados.
“ boa tarde cadelas brancas menstruadas. Vacas brancas da buceta
menstruada. Vagabundas ricas que ficam o dia todo trancadas em seus
camarins lendo romances ridículos. Gente branca é tão fresca? Você não
acha? Onde está seu seu velho pai? Fazendeiro escravocrata? Chama o
velho?”
O velho fazendeiro apareceu na sala de estar descendo as escadas. “não
machuquem minhas filhas”
bandido: “ machucar? Acha que somos brancos? Acha que somos nós que
estupramos negras na senzala? Coroa velho, onde está o dinheiro? Mostra
o cofrinho velhote”
eles levaram muitas moedas de ouro e joias, brincos e colares das meninas.
Fugiram a cavalo.
Naquele tempo havia muitos grupos de bandidos. A policia não prendia.
Matava. Era espada, tiro ou forca.
Esse grupo “ os mascarados” foram refugiar-se no quilombo. Um deles era
irmão da mulher de Fernando. Fernando era apelidado advogado dos
negros ou advogado dos escravos.
Defendia ele os negros em processo de liberdade. Nesse tempo muitas
pessoas negras compravam sua liberdade. O Brasil começava a mudar.
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A corrupção era frequente no Brasil. A safadeza, a putaria, a sacanagem.
O Brasil é corrupto por vocação. Os negros libertos logo entravam na
malandragem. A malandragem é uma metodologia de luta pela vida.
Já dizia o Gregório de Matos Guerra “ todos os que não furtam, muitos
pobres”
Vendo Fernando que a advocacia era um método chique de malandragem.
O advogado é um malandro erudito, douto, bem educado, bem nascido.
Largou a advocacia. Nesta época os negros foram libertos nos Estados
Unidos, por isso um de seus filhos se chamava Abraão por causa de
Abraham Lincoln. Ele começou a lutar nas revoltas coloniais e na luta por
independência. Teve o mesmo destino de seu pai. Enforcado e
esquartejado.
A memória desses sonhadores infelizes ficou no esquecimento.
Há hoje no Brasil muitos nomes de ruas e avenidas com o nome de
Domingos Jorge Velho. Destruidor do quilombo dos palmares.