JOÃO E A GAROTA SEM NOME

JOÃO E A GAROTA SEM NOME

Tobias Barreto estava debaixo de água. Os comentários na mídia local era que já havia chovido a quantidade de um ano. As ruas asfaltadas sem drenagem formavam lagoas pelos quatro cantos da cidade. O povo, destemido como de costume, enfrentava o inverno antecipado no mês de maio. Era 22 de maio, o outono agonizava seus últimos dias e o inverno intrometido, fora de época, trazia o frio para a cidade do poeta Tobias Barreto. O comercio não recuava, as repartições públicas também. Tobias Barreto não temia nem a lama nem o chuvisco fino que vinha entre um temporal e outro. A feira da coruja era um formigueiro de gente. Os carros de som anunciavam o melhor produto e o melhor preço, e o consumidor vindo, sobretudo, da Bahia era um verdadeiro destemido. A rodoviária, bem no epicentro da feira da coruja recebia pessoas de todo canto. Entre elas estava João Alfredo.

João Alfredo era natural do Campestre, um povoado de Tobias Barreto localizado no alto de uma serra. Dizem que de lá se pode ver toda a cidade de Tobias Barreto. O povo do Campestre é dócil e hospitaleiro. Segundo os mais velhos nunca se viu gente do mal no Campestre. Foi lá que nasceu João Alfredo. Um rapaz de boa aparência, alto, esbelto, cabelos lisos e pele cor de jambo. João Alfredo, as segundas feiras, ia para a feira da coruja vender produtos do Paraguai que ele adquiria em Feira de Santana.

O Rapaz chegou a Tobias Barreto ainda madrugada. Desceu a avenida trinta e um de março na direção de sua barraca que se localizava defronte o Clube Social. Quando o rapaz terminou de arrumar suas coisas o dia estava clareando. João Alfredo pedia sempre a uma colega para olhar a barraca enquanto ele tomava café. João Alfredo foi a padaria de Ananias fazer sua refeição e em seguida desceu para sua barraca que já estava com fregueses querendo comprar suas bugigangas:

- Eita João! Hoje a feira vai ser boa!

- É. Com a graça de Deus vai ser mesmo!

- Como está a comadre sua mãe? Nunca mais a vi.

- Tá daquele jeito. Não para de trabalhar mesmo estando proibida pelo médico.

- É. Comadre Gedalva não se entrega mesmo. É uma guerreira.

Os clientes iam e vinham. João estava feliz com as vendas mesmo estando debaixo de chuva. As pessoas se abrigavam na barraca do moço e assim viam as coisas expostas e eram seduzidas pelo preço e pela lábia do rapaz. Por volta das dez horas se aproxima da barraca uma linda mulher de seus trinta anos. A mulher trajava um vestido cumprido com alças nos ombros. Toda a peça era enfeitada com figuras de flores coloridas. Sobre a cabeça a mulher usava um diadema com três botões de rosas vermelhas. A bela figura calçava uma sandália de couro com fivelas enfeitadas com pequenas flores. Ao se aproximar do moço do Campestre o seu perfume encheu o lugar de uma fragrância de flores silvestres. João mirou seus olhos nos olhos da mulher e perguntou: “A moça vai querer alguma coisa? ”

- Sim. Estou procurando pilha palito para meu controle remoto.

- Temos diversos tipos de pilhas. O moço, então mostra as pilhas e a mulher escolhe um par.

- Quanto é?

- É só dez reais. A mulher paga a João e se vira para ir embora, todavia, neste momento a chuva retorna com muita força. João, então, diz para a moça ficar debaixo da lona de sua barraca. O ser belo atende a sugestão do moço do Campestre e continua na barraca do mesmo à espera do fim da chuva. Mas os céus haviam se aberto e a moça teve que esperar. Em silêncio a garbosa criatura mexe em suas compras para ver se tudo estava lá. João a observa com muita vontade de dizer-lhe algo, mas a timidez do rapaz o proíbe de tão grande aventura. A chuva dá uma trégua e com ela a moça sem nome desaparece entre as pessoas. João para um pouco de arrumar suas coisas e diz o pensamento mais íntimo de seu ser: “Meu Deus que mulher bonita”

A hora de ir embora havia chegado. A partir de três horas a coruja perde o brilho; as pessoas vão embora. Os carros carregados de feirantes e populares seguem o trajeto rumo a seus destinos. João toma o ônibus para o Campestre. Era um hábito seu sentar no fundo da condução. O rapaz se sentou sem prestar atenção a quem estava ao seu lado. O rapaz de cabeça baixa segue rumo ao lar, todavia, sem querer ou intenção ele vê as sandálias de couro com rosas. Lentamente o rapaz ergue o rosto e mira a mulher das pilhas. O olhar de admiração misturado com o afeto inesperado tomou posse do espírito do rapaz que apesar da timidez usa a palavra naquele instante: “Você, de novo? ” A moça responde a João dizendo que estava a caminho de Poço Verde:

- Estou indo para Poço Verde visitar parentes e você? A moça abre um sorriso quando diz você.

- Estou a caminho de casa. Eu moro no Campestre.

- Ah, é, o ônibus passa por dentro do Campestre. Sabe que eu nunca visitei o Campestre. Dizem que a serra tem muita coisa bonita para se ver.

- O bom mesmo do Campestre é a tranquilidade da vida e o friozinho a noite. O dois conversaram até o Campestre onde João Alfredo desce se lamentando de ter chegado tão rápido: “ E eu nem perguntei o seu nome “.

Em casa, em seu quarto, o rapaz reprisa a conversa com a moça e reflete sobre o que disse e ouviu. O rapaz ficou bastante atraído por ela, mas decidiu tira-la da mente, uma vez que nem o seu nome sabia quanto mais onde encontrá-la. Contudo aquele dia fora um 22 de maio que o rapaz jamais esqueceria.

No outro dia, pela manhã, João Alfredo desce para Tobias Barreto com o intuito de ir ao banco. Seu pai pediu-lhe que fosse depositar o dinheiro da venda de uma vaca. João prontamente atendeu ao desejo do pai e estava em Tobias às nove da manhã. Depositou a quantia e rumou na direção da rodoviária. No meio do caminho, como se fosse uma conspiração dos deuses, ele avista a moça. Seu coração acelera, no entanto, a timidez o põe a distância. Então João decide seguir os passos da moça. Por onde ela fosse o rapaz estava atrás.

A doce figura andou muito aquela manhã. Primeiro ela foi a loja de celulares para trocar a bateria de seu aparelho. João ficou no canteiro da Avenida Sete a sua espera. Depois ela pegou o beco da Igreja Batista e foi para a loja de seu Gusmão na Getúlio Vargas. João a acompanhou até ela dobrar a esquina. O moço ficou a uma distância maior por que a loja se localizava bem perto da esquina. O rapaz a espreitava e observava tudo; todos os passos da menina bela. O tempo corria e a moça estranha não parava. Às onze horas ela foi tomar um açaí na lanchonete Disney. Ali ficou um instante e saiu conversando com uma amiga. Defronte ao G Barbosa Supermercado ela se separa da colega. Alguns minutos depois ela atende ao telefone. João para e fica de prontidão a espreita-la. Depois que ela atende o telefone João percebe que ela passou a andar mais rápido. Em seguida toma um moto-taxi. João faz o mesmo e a segue até o Tanque dos Missionário. Ela desce do transporte e se senta em um banco. O missionário estava um deserto. A praça do Missionário estava totalmente deserta por isso João podia ser perfeitamente visto. Por essa razão João fez a volta e ficou por trás da moça que não o via. Passados foram cinco minutos até que uma moto para e desce um rapaz usando capacete. Os dois conversam e João atento presta atenção a tudo. Em certo momento o casal inicia uma discussão. O rapaz de capacete se levanta e começa a dizer impropérios contra a moça que de cabeça baixa nada diz em sua defesa. João fica nervoso, mas, nada faz. Apenas se limita a observar. A discussão ganha força. A moça estranha resolve contra-atacar e começa uma série de acusações contra o homem de capacete: “ Você é ridículo “. No calor da discussão o homem de capacete saca uma faca e mesmo sob os pedidos de misericórdia esfaqueia a bela moça três vezes. Deitada no chão em agonia ela diz: “ Eu te amava Rodrigo “...

Roosevelt leite
Enviado por Roosevelt leite em 15/03/2024
Código do texto: T8020239
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