Coisas incríveis do Brasil - mensagem do Barnabé Varejeira.
Cérjim, meu amigo dos peito, do esquerdo e do direito, cê tá bão, meu fio? Cê tá co a graça de Deus ô ca desgraça do Tinhoso? Ovi umas instória que diz respeito a sua vossa pessoa, e percupei-me a mim mermo. Inspéro que não seja vredade; se fô, se acorrija, moço, tome tento. Não quero vê seu mal. Quero bem, e muinto bem ocê. Cê é amigo, e dos bão. Intão, seja direito.
Agora, vem cá, Cérjim. Ocê não acha e não há de achá que há no nosso Brasil que Deus nos deu muinta coisa incrível, incrivelmente extraordinária, coisa de ôtro mundo? Cê não acha? Pois digo, Cérjim: há no Brasil coisa de arregalá os nosso óio de tão maraviosas elas é. Duvida?! Intão, veja ocê: dias deste, encontrei-me a mim mermo com um garoto, desses de buço incipiente, pintinho que pensa que é galo, menino-moço-óme que no ano passado tirô o diproma escolar, uma fôia de paper cheia de garatuja, umas mais feia do que as ôtra, e estas ôtra tamém são feia, e todas são muinto diferente, e nem se compara, cas arte do Professor Péricles, óme em quem ninguém, nem no céu, nem no inferno, põe defeito; o menino-moço-óme, dizia eu, Cérjim, anteonte, ou transandonte, numa conversa livre, leu uma página de um livro, e entendeu o que leu. Incrível! Dado o que se dá no Brasil, hoje em dia, e onte tamém, e que tamém há de dá amanhã, o que aquele garoto imberbe fez é um feito façanhudo, coisa do Salamão do Antigo Testamento. O Salamão, fio do Davi, era um óme batuta de sabido. Sabia de tudo aquele moço, e mais um pôco. Tamém pudera, c'aquela barba de bode véio, queria o quê?! Todo óme que tem uma barba daquela é sabido. E não é, não?! Num querdita ni mim, Cérjim?! O que cê tem pa dizê do nosso Imperadô, o segundo, pai da dona Isabel, que emancipô, ao assiná a Lei Áurea, os óme e as muié de cor vindo das África e os nascido aqui das muié vinda de lá das selva e sanvana africana?! O imperadô, o segundo Pedro, fio do primêro, e não sei se foi pai de um tercêro, era um Salamão tamén ele. Digo, e não admito réplica.
Mas, vê ocê, Cérjim, as coisa daqui da nossa terra: as pessoa vai à escola pa estudá, e nada estuda, e, pior ainda! nada aprende. Digo bobaje?! Intão, diga pa eu pruque os jove dipromado não sabe lê e nem escrevê. Quando encontro um que sabe, me espanto a mim mermo. Meus cabelo, os pôco que meu cérbero ainda não pôs pa corrê, até se arrepia ao vê um jove que sabe lê, escrevê, fazê conta e falá miór do que um macaco. Os macaco são nosso primo. E tô começano a achá que eles todo, e não nóis, omossapienses, é que são os inteligente da famia, e não nóis.
E digo mais, Cérjim: uma garota, que é neta de um amigo meu dai da cidade de Piamoangaba, sabe vê mapa, todos tipo de mapa. Tava eu na casa do avô dela, ele amigo meu, e ela, a menina donzela, co um mapa nas mão, oiava as figura, e apontava os país do grobo terrestre, que é este em que vivemo e morremo. E ela sabia achá os país. Preguntei pa ela: "Onde fica o Brasil?" E ela arrespondeu-me: "Na América do Sul." E eu falei: "Mostre o lugar." E ela mostrô onde tá o Brasil. Acertô na mosca. Menina danada de esperta. E ela tamém sôbe achá a Argentina, o Chile, os Estado Unidos, a Inglaterra, o Japão, o Egito, e mais um punhado de país. Não errô nenhum a menina. Nenhum. Sabida. Tá de parabéns. Pedra perciosa ela é.
E óia, Cérjim, que espanto: uma vez um médico, que tinha de cortá a perna esquerda do seu Pedrinho, quase lhe cortô a direita. Ô coisa não sabia lê o que tava no paper. Bestaião. Se em vez da perna esquerda do Pedrinho lhe cortásse a direita, depois teria de cortá a esquerda, e assim ele viraria cobra. Sem perna ia andá de que jeito?! Tinha de se arrastá. Sorte dele que arguém avisô o médico, que dele cortô a perna esquerda, que tava podre.
E tem mais coisa incrível no Brasil, Cérjim. Qué que eu conte po cê mais uma? Conto. E conto de bom gosto. É esta: um moço, que eu conheço só de vista, de cujo pai não conheço o nariz e de cuja mãe desconheço o focinho, no sábado, um pôco antes de eu chegá no açogue do Alface, tocô-me no ombro, e, ansim que me virei pa ele, ele me deu a mia cartêra; e arregalei os óio que Deus me pôs na cara feia, e peguei o que o moço restituia ao seu verdadêro dono, que sô eu, a cartêra. Agradeci o favor. E ele se foi adiante. Vi que na cartêra tava os meu documento e o dinhêro. Não fartava nem sequer uma nota. Tava tudo lá. Ocê não querdita como fiquei feliz. Há gente de bem no mundo, Cérjim.
Escrevo até aqui. E paro. Ôtro dia escreverei po cê ôtra mensage cas coisa daqui.
Que Deus Nosso Siôr Jesus Cristo Menino não dêxe ocê se desgarrá do aprisco.
Inté.