Bonecas de Papel

 

 

 

Eu desci da Van da escola e percebi dois carros parados enfrente de casa. Estava sendo assim a semana toda. Visitas para mamãe.Decidi então que entraria pela porta direto para meu quarto. Mas não foi assim. Ela, como sempre, estava choro

ndo. E percebeu minha entrada. E logo me chamou:

- Carol venha cumprimentar seus tios. 

Eu não podia evitar, não é  mesmo ? 

E fui liberada em poucos minutos.  Depois de beijinhos e abraços sentidos.

Entrei correndo pela porta do quarto. Enquanto tirava o tênis ligava o computador. Logo , mamãe ia chamar para o almoço. Liguei o som baixinho para que da sala não ouvissem que eu escutava música. 

Estava se tornando uma rotina. No domingo minha avó Nanda faria uma semana de morta. E as pessoas não paravam de chegar. Minha mãe chorava sozinha, mas acho que com aquelas pessoas ela chorava mais ainda. 

Eu não entendia direito e ninguém me explicava. Não precisava estar doente e velhinho para morrer ? Tinha sido assim com o Fred, o gato do meu pai. Foi quando ele me explicou sobre a morte e sobre o lugar legal para onde os mortos vão.  Mas vó Nanda não era tão velha e nem estava doente. E ninguém me explicava nada. Nem o Thiago, meu irmão mais velho não queria falar no assunto.

Mamãe e vovó eram mãe e filha e muito amigas, faziam tudo juntas. Claro, até eu vivia agarrada nas duas por serem tão alegres e cheias de histórias. 

A vó Juci, mãe do papai, já era outra história. Era  mais velha e sempre tão séria. Tão intelectual, como a mamãe dizia! Ela só dava presente de livro. Eu gosto mais de ler no computador então os livros ficam tudo guardados nos dois gavetões  embaixo da cama. Confesso que li todos, mais todos, da coleção "Diário de um Banana" mas o resto não li não. Nem os Harry Potter, eu li tudo pelo computador,  sei de tudo pela Internet. 

E a vó Nanda completamente diferente,  trazia doce, coisinhas artesanais que ela mesma fazia. Acho mesmo que ela sabia fazer tudo de artesanato. Estava sempre criando uma novidade. E sempre com uma história para contar.

Quando eu era pequena e ela me fazia dormir contava que as borboletas que tinha tatuadas no braço saiam a noite para passear.  Eu não acreditava, é  claro, mas ficava admirada com ela falando : 

- E quando vou me deitar as borboletas saem para passear. Viram fadas. Não está acreditando?  - eu acenava que não - é  verdade, ela me contam depois .

E tinha outro detalhe na vó Nanda. Ela amava bonecas de papel. Ela trazia sempre uma para mamãe destacar do papelão junto com as roupinhas e acessórios para eu brincar.

Como os livros da Vó Juci eu guardava todas as bonecas  numa caixa no armário pois o que eu gostava mesmo era das minhas bonecas virtuais que posso trocar a cor dos cabelos e a maquiagem. 

Mamãe entrou no quarto para me chamar para almoçar,  com o tom da voz bem baixinho . De onde vinha tanta dor ? 

 

                ( continua... )

Ana Pujol
Enviado por Ana Pujol em 06/03/2024
Código do texto: T8013943
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