Era tarde. Nem as badaladas do relógio ecoavam... Estavam todas aflitas para que o sol logo nascesse.  Na linha do horizonte, um mar profundo de dúvidas e insegurança. Abri a janela para ver aquela chuva miúda, a gotejar continuamente e, entoar um som agradável em bemóis sem sustenidos. Durante a madrugada, as ideias fluem como bálsamos... e, tudo fica mais fácil, não há a redondilhas das cantilenas sem fim. Não há a contundência das mazelas que como feridas abrem em nossa alma que sem cura, prosperam... Era tarde... O amor passou. A primavera passou. O outono derrubou as últimas folhas, só nos restara o inverno. Sopro do vento frio, a sibiliar mensagens indecifráveis, a chuva redinha e discreta. E, ainda, aquele seu olhar lânguido a passear no cenário com quem procurasse uma razão para enxergar. Muitas coisas, só aprendemos tardiamente. É a idade que nos dá a maturidade suficiente para aprender, porque o resto é silêncio. Será mais nobre sofrer por pedras e flechas do que com a fortuna que enfurecida nos alveja. Hamlet é avassalador, Shakespeare é um alvejante e, Karnal com sua clareza solar destroi toda a complexidade e, nos faz sentir vassalos diante de nossa inconsciência. Toda a existência humana vagueia por ser ou estar? E, só procuramos a verdade oculta em tudo. Hamlet me parece tão contemporâneo. Depois de ter dito tudo, o que restou foi o silêncio. Talvez seja a resposta, talvez seja a anestesia final, pois diante do vazio, o que nos resta é mesmo  apenas o silêncio. 
 

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 02/03/2024
Código do texto: T8010850
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