À Sombra do Jatobá
À sua sombra, li, reli, recordei, sonhei com as grandes aventuras de minha infância. Quantas saudades eu tenho de ti, meu velho e querido amigo. Espero que os teus frutos adormecidos no solo renasçam com o mesmo esplendor que tivera e tragas a todos a sombra mais amiga de todas as árvores.
Ah! Meu amigo e irmão jatobá. Quantas saudades eu tenho daqueles tempos em que eu ficava sentado à sua sombra navegando em naves fictícias por mundos desconhecidos. Várias vezes saí do meu país e conheci terras distantes sem deixar de usufruir da sua acolhedora sombra.
_ Lembra daquele dia em que eu adormeci e você pediu para que um joão-de-barro me acordasse com um pouco de barro, pois minha mãe me chamava para levar o café da tarde ao meu pai, que na roça trabalhava? Aquele dia quase apanhei. Era sempre o meu dever das três horas.
Você sempre foi o meu melhor amigo e confidente. Suportou as minhas lágrimas pelas surras que eu levava das peraltices praticadas por mim. Ainda bem que seus braços nunca foram relhos de meu pai.
Hoje, ainda me lembro das histórias e estórias que eu lia e você ao balançar dos galhos respondia: por favor, leia de novo, a terra do Egito é tão linda! Terra do Egito - meu querido jatobá - mundo distante, sonho realizado.
Meu querido e velho amigo, esse sonho realizei, e com certeza tudo aquilo que eu li, vi. As pirâmides são tão altas como você. Claro, você era bem mais majestoso. O Rio Nilo, meu amigo, à noite parece uma serpente prateada ao luar. Parecia a nossa represa, você se lembra? "Aquela onde minha prima pescou um peixe pela barriga! Que gritaria danada naquele fim de tarde! Não pescamos mais nada, nem borrachudos." O Egito é lindo, mas lindo mesmo era a terra onde você estava plantado. Centenas de tardes fiquei sentado ao seu tronco, lendo as pequenas histórias sobre a Itália e outros tantos países. Alguns deles já conhecidos.
E os marimbondos, você se lembra? Eu ficava cutucando a caixa do enxame e com certeza, você ficava rindo de mim, só esperando a hora em que eles iam me atacar. Como o mel era delicioso! Você, como sempre, só ficava na vontade.
Eu sempre ficava derrubando os seus frutos por entre os longos galhos e você nem me avisava que de vez em quando aparecia cobra-verde entre as folhas.
Seus galhos faziam o meu esconderijo perfeito para as minhas aventuras medievais e seu tronco era meu apoio, meu travesseiro de longas horas.
Lembra daquela vez que levei meus amigos para conhecê-lo, e você muito do sem-vergonha não nos avisou que tinha chegado um enxame de arapuá e no corre-corre as meninas caíram por cima dos estrumes dos animais e os meninos se enroscaram na cerca de arame farpado? Às vezes, você era malvado. Depois era eu que levava as broncas.
Poucas noites passei com você, pois parecia que todas as corujas ficavam alojadas na sua copa só para bisbilhotar nossos sonhos.
Quantas saudades, meu amigo!
Recentemente, meu amigo jatobá voltou à terra em que nasceste após um forte vendaval. Ele estava muito cansado.