NÃO TIVE TEMPO DE DIZER SIM
Estávamos nos anos setenta, foi a melhor época da minha vida, apesar de ainda não ter um emprego mesmo já tendo completado dezoito anos. Mas tinha a minha mesada por ter um bom comportamento nos estudos e ser um ótimo filho, meus irmãos davam mais trabalho, porém seguiam as regras domésticas. Foi nessa fase dourada quando éramos, eu e meus amigos, freqüentadores de bailes e assustados, que conheci Dalvinha, uma das garotas mais disputadas do bairro, ela havia chegado recentemente no pedaço (nossa área) e despertou muita atenção. Nem sei explicar porque caí na sua graça (para desespero dos amigos), o fato é que ficamos sendo vistos como namorados, dada a sua especial atenção em minha pessoa.
Tudo ia bem, ela passou a integrar a nossa turma e a freqüentar os mesmos clubes e festinhas que íamos. Confesso que fiquei bastante interessado nessa garota e ela em mim, faltava só a "formalidade" de nos "apresentarmos como namorados", o que a turma já desconfiava e com razão. Eu estava pensando em pedí-la em namoro, aí oficialmente estaríamos "legalizados" perante a rapaziada, que deixaria de cortejá-la com freqüência. No entanto aconteceu um imprevisto, um tio meu que estava nos visitando resolveu voltar para São Paulo e me propôs ir com ele para trabalhar lá na terra da garoa, era pegar ou largar, tinha que decidir ainda naquela noite que antecedia a sua viagem de retorno. Fiquei alegre, porém apavorado, pois no dia seguinte eu ia me revelar para Dalvinha e acabar com as dúvidas, mas não daria tempo, meu tio viajaria logo cedo em seu confortável automóvel da época. Topei a parada, afinal iria receber uma boa grana todo mês.
Para surpresa de todos lá estava eu viajando para São Paulo e sem poder dar uma resposta tão desejada para a futura namorada. Isso me transtornou profundamente, mas estava em primeiro plano o meu futuro, minha vida ia depender desse primeiro e importante emprego. Nesse tempo não tínhamos meios de comunicação como temos hoje e praticamente desprezei Dalvinha. Resultado, depois de dois dias de estrada cheguei em São Paulo e fui logo pegar no batente. Vi os dias se passarem e aquela angústia misturada com saudade remoer as minhas entranhas. Um ano depois, nas minhas primeiras férias, voltei à minha cidade para rever os parentes e me desculpar com Dalvinha, que já namorava fixo um amigo meu muito espertinho. Nossos olhares se cruzaram e eu notei uma pequena lágrima descer discretamente em sua face. Resisti para não ocorrer o mesmo comigo.