"MAYSA"

 

Sentado estava, sentado fiquei… quando ela entrou devagar num vestido branco e longo. Usava um colar de pérolas que dava três voltas em seu – mais que perfeito – pescoço. Não fiquei pensando se aquilo era fruto de uma mente insone (beirando a loucura) ou se ela estava mesmo presente. Maysa fez uma reverência meio esnobe, sorrindo aquele famoso e meio cínico sorriso cheio de malícia, mas doce como mel… mel mergulhado em uísque.

 

Segurava um copo, como não poderia deixar de ser, e o barulho do gelo tilintava. Apesar do mau cheiro da bebida, tudo se misturava com seu perfume e afinal entorpecia… e acariciava o ambiente. Ela não abandonara seu vício; “O meu amor por você é imenso…” e seu vício não era o uísque... seu vício era o amor. "Ouça..." Cantava, cantava… E eu não piscava por um segundo sequer. As lágrimas de emoção deslizavam aos montes a maçã do minha face, molhando meus braços cruzados, serrados por uma emoção nervosa (como se eu fosse morrer com aquilo tudo).

 

 

“sei que você me entendeu… Sei também que não vai se importar… Se meu mundo caiu… Eu que aprenda…”. Não consegui mais resistir e fechei os olhos com força. Lágrimas saindo dos cantos. "a levantaaar...." abri novamente e tudo voltara ao normal e o cheiro ruim de uísque também se foi. Um silêncio triste e intenso se fez. No dia seguinte comemorei por dentro mais um contato com o mundo dos meus ídolos mortos. Uma nova visita... ao quarto escuro nos campos escuros de minha imaginação. Onde há um altar… e lá ao longe… com um imenso jardim em sua volta: de lá desabrocha Maysa, sempre no fim da tarde triste. “Quem quiser encontrar o amor… vai ter que sofrer, vai ter que chorar... Vai ter que esperar” ... eu espero.

 

[05/04/20]

 

 

Henrique Britto
Enviado por Henrique Britto em 16/02/2024
Código do texto: T8000420
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