Aniversário
Hoje comemoramos aniversário aqui em casa. E a despeito do que todos imaginam, não se trata apenas dos quinze anos da minha filha. Ninguém suspeita, embora seja óbvio para mim, que há outro aniversariante, e que este completa exatamente a mesma idade que ela. Não se trata de uma irmã gêmea misteriosa ou de qualquer outro caso mirabolante. Quem completa quinze anos de vida, também hoje, sou eu, é claro.
E devo isso a ela. Ela que hoje cedo veio me acordar e, brincalhona, disse:
— Obrigada por me trazer à vida!
Ah, nem desconfia essa criaturinha que há quinze anos foi ela quem me deu à luz, e fez nascer um pai, um ser bem diferente do que eu era antes. Não me entendam mal por deixar de dizer que nasceu também uma mãe no seu parto, só não o faço porque penso que, se o homem só se torna pai ao ver o seu bebê esperneando e ao ouvi-lo chorar pela primeira vez, na mulher não existe um momento específico para essa transformação; esse nascimento. Aliás, talvez toda mulher já nasça mãe, ou melhor, com o espírito maternal...
Ou nem todas, como pude ver um dia.
De um canto da sala observo todo o desenrolar da festa do seu, digo, da festa do nosso aniversário. Fico aqui a contemplar o júbilo dela, do qual, bem eu sei, depende o meu. E em todos esses anos nunca fiz questão de presentes ou de me declarar um festejado e não só um festejador; deixo tudo para minha filha. Pois minha festa está em seu sorriso e meu presente é vê-la feliz como, especialmente hoje, ela está.
E se o sentido deste texto faltou a alguém, é porque lhe falta também a experiência do mistério de nascer duas vezes e de ter vivido duas vidas durante o decorrer de apenas uma.
...
É festa!