EU E AS MINHAS CARÊNCIAS (BVIW)

 

 

Quando eu era criança pequena   eu tinha uma moça que se chamava Júlia e cuidava de mim, todas as noites me jogava dentro da rede e costumava me balançar  alto para que eu dormisse logo. Ela não me contava histórias de “era uma vez”,  tinha pressa para que eu dormisse logo  e uma vez livre de mim, ia  se juntar as colegas e rodar na praça da cidade. Então, ela costumava dizer: “druma logo se não os cuministas vem comer teu figo”.

Talvez,  por uma questão de carência, exerça sobre mim um fascínio especial as histórias que começam por “era uma vez”, e que não me foram contadas. Criança quis ouvi-las. Adulta quis escrevê-las. Hoje, a frustração do fato  bloqueia-me a imaginação e sei apenas dizer: "era uma vez". Minhas homenagens, portanto, a Clarice Lispector, que foi mais além e conseguiu :”Era uma vez um pássaro, meu Deus”. Extensivo a todos àqueles dedicados escritores que, com a sua imaginação abençoada, foram e são capazes de povoar mentes infantis de sonhos tão necessários.

Pois é, vou ficando por aqui com as minhas carências  o que sinto mesmo é uma saudade do não vivido, de momentos só imaginados, sonhados, queridos...

 

 

 

 

 

 

 

Zélia Maria Freire
Enviado por Zélia Maria Freire em 07/02/2024
Reeditado em 07/02/2024
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