SIGNUS SOLARIS - LÃS E PENAS

Camila Diniz e Alexandre Florez - Parte 02 por Camila Diniz

O carneiro e o galo têm pouco em comum além dos hábitos diurnos. Sua sina é ligada a grande estrela da manhã. Cada qual com sua função, peculiaridades e familiaridades, rotinas e manias.

Sob primeira observação ficam marcadas as diferenças: O galo é pequeno coberto de penas. O carneiro grande encoberto de lã. Galos cantam ao raiar matinal. Se adiantam por vezes ao levantar do sol. Carneiros o fazem pontuais, quando há necessidade de fazê-lo, não lhes importa a hora.

O carneiro, quando quer encrencar com outro se adianta e apela para marradas. Empurra seus oponentes. São brigões de natureza, a base das disputas delineiam sua hierarquia, obtém força, um exercício de mitridatismo que lhe permite suportar o que virá. Não há sutileza seu meio é assim, repleto de uma áspera sabedoria que só a mãe natureza pode emaranhar.

Galos são também territoriais, usam as extremidades de baixo (esporas/esporões) para atacar seu oponente. Seu pavio é curto, a combinar com tamanho, e faz contraponto com a periculosidade das suas bicadas. Defendem o que é seu; demonstram bravura. Têm atos imprevisíveis, rápidos, mas sabem muito bem a que ponto querem chegar. Ou não; quem poderá contra-argumentar?

Carneiros, são dignos, sentem, agem por vezes demais. Pode faltar equilíbrio, muito embora sua transparência seja marca fugaz. Tosa-se a pelagem quando vem o calor, a lã se renova, torna a vesti-lo. Conserva-se o miolo, nada o muda se não o tempo e os frutos que a experiência traz. O domínio de Chronos é implacável nem um ser, tão, mas tão cabeça dura escapa aos efeitos.

Galos atingem os seus por vezes sem intenção de brigar. As mesmas esporas que o defendem podem se tornar inconvenientes e difíceis de ignorar. Carneiros não têm esporões, seus oponentes não têm esse ponto para se preocupar. Esquenta rápido a cabeça dura, em um piscar de olhos, em qualquer ocasião está pronto para batalhar.

[...] Tu vieste de uma escolha um estalo em meus pensamentos. Chamemos de sorte ou destino. Não temos de definir o momento. Foste o Ulisses da minha Odisseia. Nem sabia da tua vinda mas esperei. Como o passar dos dias representasse a contagem para a tua chegada. Surgiste disfarçado não levantaste fizeste alarde e quando te mostraste de vez, já tinhas a vitória em mãos. Cabeça dura confinado em gente - alinhado ao cacarejar. Tão diferentes, contraponto - peças de um mesmo quebra-cabeças. Sem um não há outro. A imagem, a existência segue incompleta. Desafios foram propostos, as provas, os testes não favoreciam. A medida do limite que apenas o verdadeiro poderia alcançar. Armaste o arco e disparaste. Acertaste à tua primeira flecha e ninguém a removerá. Sequer há espaço para tal, jamais.

Somos dois seres de temperamento, que vão da passividade à rinha, à briga em pouco mais de um balir, um cacarejar. Nada pode ser feito quanto a isso. Há quem discorde da mistura, mas cá entre nós, conseguimos fazer funcionar.

[...] Há ritmo, a dinâmica, o ritmo é como ‘Rock’n roll’. Por vezes a letra não é dita entoada, a mensagem está entregue pelo solo, a vibração conta uma história um sentimento por si só.

Cada vez que meus olhos encontram o indiscreto símbolo amarelo, na cor da agitação, sacodem-me os pensamentos. Lembro-me do início. Não me falta gosto em recordar, reviver cada parte. E creio eu que o mesmo ocorre contigo. Eis carregado pela correnteza-nostalgia do momento. Desejas pela palavra do grande Vinícius, “que não seja imortal/posto que é chama/mas que seja infinito enquanto dure//”.

Tu seguirás zelando por mim firme em tempestade ou suave maresia. Digno, impaciente, o mais afável dos cabeças duras. Por vezes perdido quanto ao percurso, incapaz de vislumbrar as estrelas acima nos céus. Mas ainda sim, certo que ao fim da aventura, é imprescindível o retorno para a ilha-natal.

[...] E cifrados seríamos como o rock das antigas - que ecoava nas décadas em que nem sonhávamos existir: “- I can't help falling in love with you…”

Nós resistimos e cá estamos em’laço-terno