Preparando o terreno
Carlos e Roberto eram donos de duas pequenas propriedades vizinhas, os dois viviam do plantio, plantavam arroz, milho, mandioca e outros gêneros alimentícios. Carlos se referia a si mesmo como fazendeiro, o que fazia com que o seu vizinho, Roberto, caísse na gargalhada. Eles não eram muito amigos, na verdade gostavam de provocar um ao outro, mais o Roberto, ou Beto como era conhecido na região, pois Carlos apenas revidava às provocações do colega, e, às vezes, nem isso, preferia, na maioria das ocasiões, ficar calado, evitando discussões.
Acontece que há muito uma grande seca assolava o lugar, o que deixava não só os dois vizinhos, mas todas as outras pessoas que também possuíam propriedades nas redondezas preocupadas, pois não eram poucos os que dependiam da chuva para obter uma colheita próspera. Os moradores passavam tanto tempo observando, desolados, a terra seca, que se esqueciam do tempo e demoravam horas e horas, desacreditando e reclamando da má sorte.
Porém, uma situação inusitada começou a acontecer. Todos os dias, Carlos, o “fazendeiro”, levantava-se cedinho e saía a preparar a terra, abrindo o solo seco com a enxada e jogando sementes. Os outros diziam que o vizinho estava louco. Não foi só uma vez que Beto gritou com ele para deixar de maluquice, que aquilo era uma perda de tempo e era prejuízo, pois o louco estava desperdiçando as sementes, que teriam muita serventia quando Deus resolvesse abrir as torneiras do céu. O fazendeiro, tranquilo, apenas respondia, estou preparando o terreno para quando esse dia chegar, tenho fé que a chuva logo virá.
A fama do agricultor já era conhecida por todo o lugar. Beto, sentindo-se particularmente ofendido, por morar mais próximo e todo santo dia presenciar aquela cena de desvario, fez questão de espalhar para quem quisesse ouvir que o vizinho enlouquecera de vez. O homem não mudava a rotina. Acordava cedo e preparava a terra. Os demais moradores reclamavam, reclamavam, olhavam para o céu e se lamentavam. Começaram a achar não só mais uma loucura o que seu colega de terras estava fazendo como também passaram a considerar a sua atitude como uma ofensa, diziam que, na verdade, ele não enlouquecera, o que queria mesmo era aparecer.
A cena se repetiu por semanas, até que, de repente, no meio da noite, quando a escuridão escondia os rostos amargurados e guardava no sono inquieto os corpos cansados dos moradores daquela região, uma forte chuva caiu e lavou as terras, renovou os sonhos e revigorou o lugar. Logo, muitos se apressaram para cuidar do plantio, arar a terra e semear. Lembraram-se, pois, do vizinho maluco, que nunca perdeu a fé que isso aconteceria. Em pouco tempo, admiraram-se todos das plantações do tal fazendeiro, que nasceram e cresceram muito antes das dos demais, proporcionando, consequentemente, uma colheita a curto prazo.
Ninguém nunca se esqueceu da esperança e da fé daquele fazendeiro, que não deu ouvidos às chacotas, às críticas e às ofensas que os outros lhe fizeram. Na verdade, foi o único que acreditou, porque, enquanto os outros pediam chuva a Deus, reclamavam e esperavam chover para agir, Carlos fez o oposto, pediu sim o milagre a Deus, mas ficou tão convicto de sua realização que não esperou, foi logo preparando a terra, e, quando o milagre chegou, ele já tinha feito a parte dele. E você, está fazendo a sua?
*Conto inspirado na obra "o fazendeiro de Deus".