Viajante do Tempo
Abrí a porta.
Eu estava preparada para encerrar aquele relacionamento que me extirpava da vida.
Ele entrou, olhou-me docemente fundo - ele consegue ver a minha alma, conhece-me como ninguém – acarinhou os meus cabelos e beijou-me suavemente a testa.
- Sentí sua falta.
- Eu também. Como estava na China?
- Ah... Óptimo.
- Faz tempo que voltou?
- Há alguns dias. Respeitei a tua vontade de não fugir das convenções.
Como posso me afastar de alguém que me faz tão bem?
É um sentimento estranho. Este português faz meu sangue ferver, mexe com os meus instintos, tem palavras doces e uma suma sabedoria. Conquistou-me com as palavras, com o seu bom humor e grande paciência.
Viajante do tempo... Descobridor de Verdades...
Colocou-me num castelo dentro de Nenhures, mostrou-me as maravilhas do seu mundo e me fez sonhar como uma adolescente bobinha.
Agraciou-me com a culinária portuguesa, apresentou-me ao bacalhau com natas,
fazendo-me pecar absurdamente contra a minha dieta.
- Antônio Carlos, não posso continuar.
Ele não imaginava quanto era difícil dizer aquilo. Mas eu tinha esta obrigação. Nossa realidade era totalmente diversa do que ousávamos sonhar. E jamais poderíamos transformar nosso sonho em “projecto”.
Então, era melhor nos afastar para não sofrermos mais, e não fazer ninguém sofrer por nós.
Hoje, parte de mim continua vivendo em Nenhures, apreciando o pôr do sol, e, enquanto as caravanas de sal passam, atravessando o deserto, olho ao longe, esperando a chegada do meu príncipe azul.