"O NOSTÁLGICO BEM-TE-VI" Conto de: Flávio Cavalcante
O NOSTÁLGICO BEM-TE-VI
Conto de:
Flávio Cavalcante
Bem-te-vi, Bem-te-vi. Um canto choroso; um pedido de socorro e desespero, levando o coitadinho pássaro indefeso a fazer questão de deixar marcada a sua presença. Cançado de tanto voar para lá e para cá, aquela criaturinha inofensiva, não parava de cantarolar, nos compartimentos do meu local de trabalho. Perdido nos corredores, via-se claramente que aquele lindo pássaro, havia entrado por alguma fresta do telhado e não estava conseguindo encontrar a saída. Um momento único para muitos espectadores, clientes do estabelecimento, que de vez em quando imitavam o seu cantar, surpresos com aquele visitante tão inesperada.
Não contive as lágrimas ao ver a presença imprevista de um nostálgico bem-te-vi. Esta cena poderia apenas ser uma arte poética, se não houvesse um sentido tão trágico na minha vida. Uma dolorosa cena do meu passado, voltou ao meu presente, como filme de longa-metragem, guardado a sete chaves no baú das minhas memórias.
Tudo aconteceu num momento de muita tristeza e consternação, precisamente entre os dias 25 a 27 de janeiro de 2011. Meu pai, estava no seu leito de depauperamento, num apartamento de um hospital em Maceió. Seu quadro era irreversível e os médicos já haviam comunicado que ele estava fenecendo a cada dia, que seria uma questão de alguns dias ou mesmo algumas horas para o seu último suspiro. Apesar do coração em prantos, sua partida já estava em nossos pedidos de oração, devido, a vermos tanto sofrimento, do nosso ente querido e tão amado pai. Os médicos, relataram, que já podia liberar tudo que ele tivesse vontade de comer e beber.
Pouco antes do seu traspasse, ele, com a voz bem fraquinha, apostilou que o seu amiguinho, um lindo bem-te-vi, vinha cantar para ele toda manhã, pousado na janela daquele apartamento hospitalar. Cantava, cantava, se despedia e voava pela janela. Cheguei a presenciar essa visita diurna do gentil pássaro, que com o seu cantar, amenizava as fortes dores de um câncer já em estado terminal.
Este bem-te-vi veio hoje me fazer uma visita no meu ambiente de trabalho. Perdido e assustado pelos corredores, deixava a marca do seu cantar, trazendo todo um passado de muita dor na época, mas, estas lagrimas, me banham, não com a dor da lembrança da perda na época, mas, carregada de saudades, dos momentos em que estávamos em sua doce e feliz companhia.
TE AMAMOS ETERNAMENTE, PAPAI.
Flávio Cavalcante.