UM BRINDE À CIDADE
Sentou-se à mesa do bar. Apitou o meio-dia. Gritou por uma garrafa de cachaça. O relógio não parou. Quase anoitecia. Enamorou-se da companheira ardente que lhe queimava a garganta a cada gole. Fitava-a como se estivesse atento a uma conversa. A cidade seguia sua rotina. Avenidas engarrafadas. Gente enlatada nas calçadas. Quando a cachaça estava no fim, levantou-se medindo a altura dos passos. Com sacrifício, tirou algumas notas enroladas do bolso, depositou-as sobre o balcão do bar, ergueu a garrafa que levava na mão, deu um grande brado e disse: "um brinde à cidade e à solidão". E caiu, morto, emborcado no chão.