Para onde foram as borboletas?
Eu andava pela rua de uma cidade que estava visitando quando avistei um homem no alto de um prédio ameaçando pular. Ele gritava em tom de indagação: “para onde foram as borboletas?” Fiquei sem palavras; ele se aproximava cada vez mais da beira. Além desse acontecimento, o que me impressionou ainda mais foi que, diante de uma multidão de transeuntes, ninguém o dava atenção. Era impossível que não estivessem vendo e ouvindo. Eu, imóvel, observei aquela cena enquanto o homem juntou os dois pés no limite do precipício e novamente gritou: “para onde foram as borboletas?”. Depois disso, como se fosse voar para alcançar as borboletas, pulou! Eu não acreditei nos meus olhos. Não demorou muito para que caísse no chão. Onde ele caiu, havia uma marcação, como aquelas ao redor dos extintores de incêndio. Eu estava em choque, nada fazia sentido. Um dos transeuntes parou atrás de mim e disse: "Você não mora por aqui, não é?" Nesse momento, voltei à razão, virei-me e respondi: “Esse homem acabou de pular do prédio e ninguém deu importância, você viu?” Então, o homem replicou: “Isso aqui é comum. Toda semana um se mata. Fogem do manicômio da rua de trás para, enfim, se jogarem dali de cima. Vê a marcação no chão? É um lembrete à multidão, que nada se coloque nesse lugar, pessoa ou carro, pois sempre pode vir um louco e se jogar, ferindo alguém ou patrimônio. Virou hábito.” Depois de dizer isso, o homem me cumprimentou e foi-se embora, como quem estivesse vendo uma barata esmagada por um pisão. Eu continuei parado, atrás da multidão, tendo à minha frente apenas o tal louco perseguidor de borboletas, espatifado na calçada, agora, parte da paisagem local.