MARISTELA.

O relógio na parede da sala marcava seis horas da manhã, segunda-feira, o sol desfilava forte no céu, verão, calor intenso. Maristela estranhou o relógio ainda marcar aquele horário, conferiu as horas em seu celular, assustou-se, passavam das dez da manhã. Havia o almoço para ser feito, ela não estava com pressa, a filha chegaria da escola somente no início da tarde, o esposo trabalhava em outra cidade retornando apenas nos finais de semana, não havia motivos para correria.

Como Maristela tinha que ir ao mercado para comprar algumas coisas que estavam faltando, aproveitaria para pegar pilhas para o relógio.

Maristela terminou de lavar a louça do café, secou-as e as guardou em seguida, ela odiava ver louça no escorredor. Maristela ainda estava de pijama, foi para o seu quarto, despiu-se, pegou um vestido azul, tecido fino, leve, embora um pouco apertado devido aos seios avantajados, optou por ele mesmo. Olhou no espelho novamente, não se agradou, pensou em tirá-lo, pois o mesmo era chamativo demais, as curvas de sua bunda ganhavam destaque, a calcinha pequena de renda era perfeitamente visível, pensou em tirá-la e colocar outra maior, porém, lá no íntimo, ela sabia que outros olham com desejo, Maristela também gostava de provocar, existia certa excitação oculta que lhe agradava em ser desejada. No íntimo ela sabia que o vestido não era adequado para uma mulher da igreja, casada, com uma filha, pensou com relativa insistência em colocar outra roupa, no entanto, seria algo rápido, não via nenhum problema em sair daquele jeito. Terminou de se ajeitar, penteou e amarou os longos cabelos negros, colocou perfume, pegou o cartão e o escondeu no sutiã, como era de costume. Saiu do quarto, pegou as chaves e foi apressadamente pela Anacleto de Sá, a rua estava quase sem movimento, o que era quase um milagre, virou a esquina na Miranda e seguiu pela Avenida Brasil, andava desapercebida, os pensamentos distantes, não percebeu a aproximação do seu vizinho.

— Oieee, Maristelaaaa... Que pressa é essa mulher...

Maristela assustou-se, parou, virou-se para ver quem lhe chamava. Era Ricardo Augusto, o vizinho. Um sessentão aposentado, de boa aparência, morava sozinho. Maristela tinha uma ótima relação de amizade com ele desde que mudou-se para o bairro, a cada quinze dias fazia faxina na casa de Ricardo. Aposentado, tinha um bom salário, era apaixonado por animais, principalmente cachorros e gatos, da qual criava vários deles dentro de sua casa. Os cabelos lisos, finos, levemente grisalhos, olhos claros, barba rala, grisalha, rosto quadro, em ótima forma física. Falava bastante, sempre proativo a ajudar a vizinha em suas necessidades, uma vez que o esposo de Maristela ficava a semana fora, ele era a única pessoa próxima em que confiava para ajudar.

— Oi Ricardo! Bom dia, perdão pela minha distração...

Respondeu com um meio sorriso, um pouco encabulada e arrependida por não ter trocado a roupa. Ao mesmo tempo, havia certa satisfação em saber que o vizinho a comia com os olhos, certamente a calcinha de renda, minúscula marcando a bunda. Era tarde demais para arrependimentos.

— Aconteceu alguma coisa? Você está tão séria, está tudo bem com o esposo, sua filha?

— Está tudo sim, não foi nada, é que eu estava mesmo distraída, o pensamento longe. Estou indo no mercado comprar algumas coisas, e pilhas também para o relógio da cozinha. Você acredita que ele parou novamente...

— Sério!... Mulher, não faz nem dias que você pediu para trocar aquelas pilhas.

— Sim... Para você ver, acho que vou comprar outro relógio. Se não for te incomodar, vou precisar daquela sua escada novamente, não sei porque o Roberto colocou o relógio da sala tão no alto, eu tão baixinha, tenho medo de subir na cadeira. Depois você empresta, eu mesmo troco a pilha?

— Claro que sim minha querida, eu jamais negaria um pedido seu, eu também estou indo ao mercado, te faço companhia, na volta você já passa em casa e eu te ajudo com o relógio, não vai ser incomodo nenhum.

— Tudo bem então, obrigada Ricardo, Deus abençoe, desculpa ficar te incomodando toda vez.

— Incomoda não minha linda, até parece, estou sempre às suas ordens.

— Linda, eu... Sério... Acho que você está precisando de ir no oculista.

— Claro que é uma belíssima, e muito perfumada por sinal...

— Vou fingir que acredito...

Intimamente Maristela incomodava-se com os elogios constantes de Ricardo, bem como o fato de estar sempre dentro da casa dele fazendo faxina, os dois sempre sozinhos, assim como, às vezes, ele também estava presente em sua casa ajudando em alguma coisa que ela pedia. Ela preocupava-se no que os outros pensavam ou diziam a respeito, embora não falasse sobre isso com ninguém, nem mesmo com o esposo.

Ricardo era um homem muito bonito para idade, ninguém acreditava quando ele dizia ter mais de sessenta anos. Era muito respeitador, embora falasse certas coisas desnecessárias, até sobre intimidade alguma das vezes. Como se tratava do Ricardo conversando mais do que a boca, parecendo muito sem noção nos assuntos abordados, Maristela relevava tudo, entretanto, lá nas profundezas do seu âmago, ela gostava e até sentia uma ponta de excitação em certos assuntos.

Chegaram ao mercado, estava relativamente vazio, sempre acompanhada de Ricardo, Maristela passava de um corredor a outro, o vizinho não desgrudava dela, não parava de falar de seus animais, do seu dia. Vez e outra, fazendo elogios constantes a Maristela, os olhos sempre passeando nos seios fartos espremidos no sutiã, em alguns momentos, quando Maristela virava-se para pegar qualquer coisa na prateleira, percebia os rápidos olhares de Ricardo em sua bunda. Tais atitudes do vizinho a deixava encabulada. Terminado de pegar as coisas de que precisavam, foram os dois para o caixa. Maristela foi a primeira a passar as suas compras, a operadora do caixa passou tudo, falou o valor, envergonhada por estar ao lado do vizinho, levou a mão delicada e pequena dentro do sutiã para retirar o cartão de crédito, como Ricardo estava atento, o olhar ligeiro do vizinho mirou as mãos de Maristela, a curva alva dos seios mostrou-se aos olhos de Ricardo. Maristela tentou ser rápida, porém, atrapalhou-se, corou de vergonha. Não havia palavras, olhos nos olhos, aquele momento de estranheza, de sentimentos confusos, do prazer outrora oculto tentando se esconder.

O vizinho passou as suas compras, que se limitaram a três ítens, ambos saíram juntos.

No início do caminho, Maristela ficou em silêncio, foi Ricardo que iniciou a conversa novamente.

— Não esqueça da escada... Pelo amor de Deus, não vá me subir na cadeira, é perigoso.

— E não é que eu estava me esquecendo...

— Tá vendo só.

— Você tá certo, gorda como estou, é perigoso cair da cadeira...

— De onde você tirou a ideia de que está obesa? Olha só para o seu corpo... Você está linda, perfeita em cada curva, um espetáculo de mulher, nada disso Maristela, você é perfeita.

Era o que ela desejava escutar, Maristela tinha certeza de que as intenções do vizinho consigo iam além da amizade, embora ele jamais fosse revelar tal desejo se ela não desse o primeiro passo.

— Chegamos gata... Vou lá guardar essas coisas e já volto com a escada.

— Tudo bem, vou guardar as minhas coisas também, eu vou deixar o cadeado aberto, é só você entrar.

Maristela abriu o portão, um meio sorriso para Ricardo, olhos nos olhos, aquele instante de silêncio, segundos que dizem mais do que mil palavras. Dessa vez, uma onda incomum de excitação tomou conta de cada fibra do seu ser.

O vizinho virou-se, adentrou na sua casa. Maristela também entrou em sua casa, deixando o portão descascado para Ricardo. Ela jogou as coisas na mesa, foi correndo ao seu quarto, retirou o vestido colocando um shorts curto, provocante, de modo que era notável o contorno da minúscula calcinha moldando as curvas da bunda. Uma camisa leve, solta. Saiu do quarto e foi para a sala, deu de cara com Ricardo segurando a escada. Novamente o silêncio, dessa vez, o vizinho a devorou com os olhos, observando cada detalhe de seu corpo provocante. "Se a intenção era a provação, conseguiu", pensava Ricardo.

— Oieeeee, vai ficar aí parado ou vai me ajudar...

— Perdão, minha linda... É que eu... Meu Deus... Bom, eu estava distraído. É... Vamos lá trocar essa lâmpada.

— Lâmpada, Ricardo? É a pilha do relógio da sala, parece que você está fora de órbita.

— É claro, as pilhas, onde estou com a cabeça.

— Se concentra rapaz, preciso que você segure a escada para mim. Como eu disse, eu troco, você apenas segura a escada, não me deixa cair.

Maristela esperava Ricardo contradizer e se oferecer para subir e retirar o relógio, o que não aconteceu, apenas concordou com um gesto positivo. Posicionou a escada no local indicado, segurou-a com uma das mãos enquanto Maristela subia lentamente diante dos olhares do vizinho em seu corpo, o perfume, as belas pernas e a curva da bunda quase diante da sua face, praticamente esfregando-se nele. Ricardo sentiu o sangue ferver nas veias, imediatamente, sem nenhum controle, sentiu o volume crescer no calçadão diante de ambos os olhos cheios de silêncio e pecado, por estar segurando a escada, não fez nada para disfarçar ou tentar esconder o volume enorme. Ricardo entendeu que o momento se tratava de um jogo de gato e rato, no caso, Maristela era a gata e ele o rato, entendeu que naquele jogo o rato não foge, muito pelo contrário, se deixa pegar. Medo e excitação tomou conta dos dois.

Quase uma hora depois Ricardo saiu da casa da vizinha com as escadas nas mãos, todo desconfiado, olhando para todos os lados, morrendo de medo de alguém estar vigiando. Foi rapidamente para a sua casa, olhou novamente para ver se alguém da vizinhança estava observando. Entrou aliviado, não havia ninguém na rua, sorriso no rosto, coração acelerado, limpou o suor na testa, entrou satisfeito por ajudar sua vizinha em mais uma dificuldade …

Tiago Macedo Pena
Enviado por Tiago Macedo Pena em 31/12/2023
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