As Novas Memórias de Um Andarilho
Aconteceu tanta coisa desde a última caminhada por essa cidade que exala histórias tanto abertas quanto ocultas ainda indagando-me se teria minhas memórias de volta.
Logo teria a resposta. Nesse meio tempo, travei uma batalha dramática com a morte e vaguei por um bom tempo a outro plano. Era tão pacífico que não queria mais sair de lá de tão tranquilo que era sem medos nem preocupações. Mas ouvia o chamado desesperado das ruas que queriam minha presença.
E logo me perturbei com as indagações de meu cérebro ainda intacto. Será que jamais voltaria a pisar meus pés no solo árido da cidade? Que não seria digno o suficiente de receber uma segunda oportunidade dos Deuses Ancestrais que comandam os céus? Ou receber a permissão do próprio Criador?
Passei pelo julgamento e a balança pendeu para o lado justo. Que receberia uma nova oportunidade de recuperar minhas memórias voltando a vagar por Pelotas mais uma vez.
Depois que minha alma revitalizada se juntou ao corpo novamente, voltei a andar pelas ruas de tantas lembranças, mas percebi que a cidade havia mudado tanto quanto eu. Para pior.
As lembranças foram destruídas, as memórias eram quase inexistentes e as mudanças foram tantas que quase não a reconheço.
Volto aos lugares por onde passei e começo a chorar com sentimentos dúbios. Pela alegria de ter retornado e pela tristeza de ver a cidade morta pelo vírus da ignorância.
Fico perguntando-me o que mudou com relação a minha antiga perspectiva. Sinto-me como se estivesse numa página em branco com histórias a ser contadas e memórias a ser restituídas.
Volto a Biblioteca e vejo que o local está diferente assim como a praça que a circunda. É como se estivesse numa nova vida testemunhando o ocaso de uma cidade que ainda amo com as memórias sendo perdidas a cada dia, semana, mês e ano.
Sinto que essa página turbulenta de meu livro de memórias tenha se fechado para sempre. Todavia, outra se abre cheia de descobertas e novos desafios. Como um quebra-cabeças a montar, um enigma a resolver.
E uma cidade por lamentar. Preciso adaptar-me a minha nova situação. O começo de uma nova era.
Os tempos mudam, os caminhos também. Mas a essência de um andarilho como eu continua a mesma.
E ao fim e ao cabo, termino este relato com a mesma pergunta que fiz a mim mesmo doze anos atrás.
Será que um dia as terei de volta?