O dono do prédio
O dono do prédio é um homem reservado, que se comunica gestualmente. Quando raramente vem até o local, dirige-se diretamente ao síndico, que já sabe sobre o seu questionamento e, sem que ele precise falar, prontamente responde: "Está tudo em dia com os inquilinos." Acenando positivamente com a cabeça, sem mais questionamentos, o dono do prédio volta pela porta por onde veio e vai embora. Se algum morador o encontra no caminho da saída e o cumprimenta, recebe como resposta um aceno, nada muito específico. Assim é o dono do prédio, reservado e, dizem, muito ocupado para diálogos longos.
Certo dia, eu estava pelo bairro da Ilha do Leite, zona sul do Recife, quando encontrei o dono do prédio em um restaurante chamado Coco Bambu. Ele estava acompanhado por amigos e, ao contrário de sua postura habitual, estava falante. Eu tinha ido lá a negócios, estava aguardando um cliente para fechar um contrato. Sabendo, por experiência própria, que o dono do prédio era reservado, optei por não cumprimentá-lo.
Entretanto, em certo momento, ele me viu num olhar de relance. Para minha surpresa, depois de findar a vista sobre mim levantou-se. De início imaginei que fosse para fazer qualquer outra coisa, mas ele veio na minha direção. Agora, trocando olhares fixos, o contato era iminente. Quando se aproximou o suficiente para fazer com que sua voz se destacasse na multidão, cumprimentou-me não com um gesto, mas com a voz, que era macia e mansa. Eu cumprimentei de volta, educadamente.
Conversamos por cerca de dois minutos, mas como ele estava acompanhado, logo voltou à sua mesa. Pensei comigo mesma: "Que bem um ambiente diferente pode fazer; é capaz até mesmo de modificar a forma como uma pessoa se comunica."