Conversa de merda
"Fezes!", grita um lunático no meio da rua. Pobre homem, sai por aí como um louco, perguntando a desconhecidos sobre a cor e qualidade de suas fezes. Todos a quem ele interroga saem quase correndo depois da pergunta. "Fezes!", ele grita novamente. E assim passa os seus dias, como um mendigo, vivendo numa caixa de madeira, tal qual um cão desgarrado.
Eu já tentei oferecer-lhe ajuda, mas ele sempre nega. Ele é louco, até o último fio de cabelo. No entanto, de tanto ouvir ele fazer essa pergunta para os transeuntes, comecei a me questionar: que pergunta tão absurda é essa que faz todos fugirem? Claro, eu sei qual é a pergunta, me refiro ao absurdo. Tamanho é o absurdo que todos fogem. E se alguém, em algum momento, o respondesse? Foi o que fiz.
"Fezes!", ele gritava. Eu cheguei perto e disse: "Boa tarde". Ele me respondeu: "Boa tarde! Qual a cor e qualidade de suas fezes?" Eu nunca havia pensado em tal absurdo, mas respondi. "Bom, penso que não seja tão diferente da maioria, cor amarronzada, mas com variantes a depender do dia. Qualidade, não sei ao certo..." Eu questionava a mim mesmo o porquê do incômodo ao responder, mas enfim, respondi: "Quase sempre mais sólida, creio que seja o normal." "Normal?" Ele perguntou novamente. Eu disse: "Sim? Bom, eu não sou especialista nisso." Ele retrucou: "Como não seria, se faz isso a vida toda." Sem mais o que dizer, fiquei em silêncio diante daquela situação constrangedora e sem sentido. O homem virou-se, e como se eu não estivesse ali, começou a falar sozinho. Sem dúvidas, essa foi a experiência mais estranha da minha vida.