Contos de Natal do Jorge: Porteiro de Motel

 

O mendigo se aproximou do bêbado. Eles se diferenciavam, pois o bêbado tinha onde morar e o pedinte não… Não eram amigos, eram de classes sociais diferentes. Mas Era Natal. Ouviram um assobio vindo do motel, cheio de luzes rosas e roxas piscando e um sujeito franzino ficou acenando pra eles. Dividiram “hermanamente” a pinga que tinham e alguns biscoitos e lá foram… ver o que o sujeito queria. Chegando mais perto viram que se tratava do Porteiro do motel… Ele parecia exausto, acabado da vida. Mas conseguia sorrir com certa graça e ternura infantil. - Qui-é que foi cara?! - Perguntou o bêbado. Ele respondeu: Aqui tem TV. Querem assistir a Missa do Galinho? Um casal de idiotas me deu um uísque e eu trouxe salame e cheetos também. - Oxente é um banquete!… Bora! - Os três se acomodaram na portaria. A televisão pequenininha, para eles era uma verdadeira sessão de cinema. Dividiram os salgados, comendo a lamber as mãos. "Não posso beber. Tô no serviço…", disse o Porteiro do motel, abrindo o uísque. - Cê vai tomar ESSA PORRA ô rapaz!! Ôx… Tem ninguém olhando, não… Tem ninguém ligando, não… tu é BESTA?! - Disse o pedinte. Então o porteiro deu umas duas bicadas. Não tinha nem o costume de beber e era porteiro pra pagar um curso técnico de "TI". Aquela "bombinha" desceu como se tivesse tomado ácido. Sua cara se transformou numa careta balançando-se pra frente e pra trás e tossindo. Os outros caíram na gargalhada, dando tapinhas em suas costas. "Epa!! A Missa vai começar... Respeito agora.".

 

**********

 

- Mal entendiam o que aquilo significava. As coisas ditas… O Porteiro abriu a carteira e olhou a foto da namorada. Não pôde estar com ela e nem com a família esta noite. O bêbado tinha uns parentes dentro de casa que provavelmente estavam ALIVIADOS por não tê-lo na ceia. O Pedinte encarava a TV e comia lentamente… seus olhos se encheram d'água diante da missa. "É Bonito…". Os outros concordaram… o ano tinha sido difícil demais. Contabilizar perdas era tarefa de masoquistas. "a vida é isso aí, e amanhã é amanhã e eu sou eu. Licuri é esse cachaceiro safado." - Riram de novo... "E vamos nessa!". Foram saindo cada qual com sua garrafinha... O Porteiro do Motel disse: "Feliz Natal e sintam-se abraçados...". Logo umas SEIS PESSOAS iam chegando... Mulheres e homens gritando, sacudindo o automóvel. "Isso vai virar um 'auê' lá dentro...". Pagaram e entraram... Ele ficou sozinho por um tempo. Ouviu um tombo vindo do escritório vazio e foi lá olhar… Era o Papai Noel. “ho ho ho!!!” ele fez... - EPAA… aqui, ô! Xispa! cê caiu no MOTEL ô Bom Velhinho”. Reclamou. "PUTS! O GPS das renas está dando caruára com esse tréco de 4G…", Disse o vovô. - Hehehe USA UBER! – “Conheço você... desde menino! Quer ser técnico de computador, né? - O Porteiro mal notou a perspicácia do velhinho. “Eu posso te ajudar!!” sugeriu Papai Noel… - Tá, e eu posso ME ajudar... - Respondeu dando as costas, resmungou um pouco e foi mandando Papai Noel "adiantar o lado pra não prejudicar no serviço"… tinha muito em jogo. Logo em seguida olhou para trás e pra cima e o viu... láááá no alto... com o trenó e as renas. O trenó parou em frente a lua e aquele riso característico ecoou com um aceno. "Não é que era ELE mesmo?!”. Desligou a TV e ligou o rádio. Sabe-se lá (exatamente) por quê: chorou um pouco... Com o fim do expediente foi andando pelas ruas e acabou se sentando na orla vazia…Puxou uma cadeira de plástico na areia e acendeu um cigarro… Tirou do bolso um papel amassado e uma caneta e começou a escrever...

 

"Querido Papai Noel... desculpe... não notei que era mesmo você, lá na recepção do Motel... Lembro que o Sr. disse que poderia me ajudar. Bem, meu nome é..."

 

Um conto de Jorge Alfredo de Maria & Silva.

 

Henrique Britto
Enviado por Henrique Britto em 19/12/2023
Código do texto: T7957605
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2023. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.