Em Busca do Conto Perfeito

Quando era criança, ouvia um velho ditado vindo de um personagem que adorava ver na televisão, o Chaves.

Ele dizia que a vingança não era plena, mata a alma e a envenena. Algo assim.

No meu caso, era a inveja. Esta sim envenena nossa alma aos poucos sem perceber.

Tudo porque jamais fui aclamado pela crítica especializada em literatura pelos trabalhos que faço.

Quem escreve nas sombras como eu nunca é notado com simpatia. Apenas desdém e raras vezes, uma ou outra pena. Tem até um nome bonitinho e ordinário pro que faço.

Ghostwriter.

Enquanto isso, o patife era aclamado como o novo Saramago. O cara mal sabia escrever um parágrafo que preste e vivia vomitando frases de efeito pros jornalistas e críticos literários que babavam ovo por ele.

Também pudera. Veste Armani todo tempo, tem uma fala articulada e as mulheres caem de quatro por ele.

E o crápula se achando o máximo. Ganhava milhões as minhas custas.

Se divertia usando minhas histórias e ainda tinha a cara-de-pau de me cobrar pontualidade na entrega dos textos para publicação.

Sabe a coisa que mais me entristece? É descobrir que pessoas como ele sempre vencem porque são bonitos e bem-falantes enquanto que pessoas como eu sempre acabam perdendo.

Porque o que escreve nas sombras nunca ganha o beijo da mocinha no final do filme.

No entanto, sigo trabalhando com minha cachola em busca daquela obra perfeita, do conto capaz de fazer mudar-me de vida.

Mas aposto todo meu salário, que não é lá grande coisa, que o idiota deve estar se remoendo por dentro pelo fato de não saber nem onde é o ponto e a vírgula.

Pode ser um trunfo usar a inveja dele pra impulsionar meu sonho de sair das sombras e ser um escritor grandioso? Ou isso pode arruinar-me de vez?

Tudo depende do grande plano.

Mas pra isso ser real, o conto precisava ser exato. Palavras certas, parágrafos idem. E principalmente o conflito. Sem ele nunca terei meu lugar ao sol.

E uma história boa o suficiente pra deixar os leitores em puro êxtase.

Só precisava de apenas três coisas para que o plano desse certo: uma inspiração, uma arma e um idiota.

Um golpe apenas e tudo seria meu. Na garganta, na cara, na barriga. Que diferença faz.

E assim conseguiria a fama e o sucesso que sempre mereci.

Pra finalizar, só precisava apenas de um título para a perfeição deste sublime conto.

A INVEJA MATA.

MarioGayer
Enviado por MarioGayer em 14/12/2023
Código do texto: T7954025
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