O Último Romance
Na brincadeira de boca de forno e depois pira esconde, naquela noite de sexta feira, em frente a casa da sua tia Albertinho não iria imaginar a volta que o mundo iria dar. De repente brincando ele e uma menina se esconderam no mesmo lugar. Aquela menina de cabelos compridos lisos e negros, de olhos graúdos e boca carnuda, que se apresentou como prima do seu amigo de infância. Tinham entre sete ou oito anos, não dá pra lembrar o porquê, mas de repente, sob a luz ainda mal calibrada do poste de energia da Celpa, ela o beijou.
O primeiro beijo e a beleza dela o estonteou , nem ela nem ele ligaram , quando o, seu primo Júnior, os encontrou.
Andando lado a lado, como réus confessos de algo, que tá na cara, que algo aconteceu, mesmo que ninguém tivesse visto, mas por serem descobertos juntos, uma algazarra dos outros meninos os envergonhou. Com esse entrave, mal tiveram tempo de trocar os nomes, pois não demorou muito a mãe dela a levou.
Continuaram brincando naquela noite e o tempo como o tempo passou. Lá pelos idos da procura exacerbada por um caminho de trabalho. Já na Unama - Universidade da Amazônia, após o período de calouros, no segundo ano, na aula da Maria do Céu, a temida estatística.
Do nada abre a porta o futuro fazendo desfilar pela sal, uma moça formosa, com aqueles imponentes cabelos longos, lisos e negros a mexer com os ânimos da turma, que a calma da professora contornou sem qualquer maiores alarde. Porém na sua leve passada, talvez sem intenção deu uma olhada para o fundo, identificando o lugar a ficar, com aqueles olhos graúdos e negros ativos, que sem querer foram na direção do olhar de Alberto. Mas isso ficou apenas nos comentários dele com o seu amigo Inaildo na hora do intervalo.
Ela só aparecia nas aulas de estatística, porque ficara devendo aquela matéria, em outro período.
Com o tempo e o vendo remoendo; as primeiras avaliações vieram e Alberto sobressaiu-se na primeira avaliação com poucos, ficando em evidência o seu entendimento também com o elogio da professora aos que debutaram numa avaliação melhor.
Como ao que parece, ele era uma pessoa simples e sempre disposta a ajudar, aquela moça ainda estranha na turma, se sentindo a vontade com a postura do rapaz, logo se aproximou e pediu a sua ajuda no melhor aprendizado daquela matéria, que como era de se esperar ele, por sua vez não hesitou em ajudar.
Era um sábado véspera de eleição, ela o convidou a sua casa e ele pediu pra levar o seu amigo Inaildo, para aquele estudo, que foi aceito sem restrições e os três passaram o dia, estudando juntos sem esgotar o assunto da matéria. Lá pelas cinco da tarde eles saindo, ela pediu a ele, que viesse no dia seguinte. A meio olhar como assinatura de aceite, Alberto seguiu com o seu amigo deixando-a em sua casa.
No dia seguinte, como prometido ele, lá pelas nove já conversava com ela respondendo sobre o seu amigo Inaildo, que tinha ido votar em Augusto Correa. Ela então agradeceu a disposição dele, de voltar no dia da eleição.
Os estudos foram se intensificando e em certa hora do fim da tarde, os olhares orfegados se tocaram...O beijo não aconteceu, mas ficou no segredo do silêncio, na intimidade das partes.
Ele tocado, mas preocupado desencandeou:
- Silvia, preciso ir votar.
Ela compreensiva e sem querer perder o "filing" daquele momento respondeu:
-Você vai voltar?
Com a cabeça disse que sim, porque o seu coração já estava tomado de vontade.
Nunca uma eleição fora tão bem assimilada. Ele cumpriu com a sua obrigação eleitoral e voltou nas asas de um Ícaro apaixonado.
Chegando no Costa Filho, com a comunicar em pensamento, ela já o esperava na entrada. Assentaram-se na mesa de estar, se alimentaram e conversando sem mais nada a fazer ela foi direta a procurar no seu ar, a boca que já esperava o beijo adiado. Parecia que a identidade se alinhava numa harmonia de muito tempo, as mãos sem ultrapassar limites da necessidade da loucura apenas se aqueciam. O corpo fervilhando em desejos se contentavam apenas com a profundida do beijo, que a mãe dela ao ir na sala, vislumbrando o momento romântico, com algumas especiarias nas mãos preferiu não interferir.
Os olhares respondiam aos estímulos da vontade, da sedução... de alguma coisa, que não por acaso surgia ali. Por vários segundos daqueles momentos os dois, se mais a vontade, se a sós teriam ido bem mais além. Por algo que ousava excitar as suas solidões, perturbando a ordem da rotina de cada um.
E ali ela confessando disse:
- Desde que te vi ali naquela sala, me deu vontade de fazer isso. Teu olhar profundo, tua boca perfeita, teus lábios deliciosos. Eu queria namorar você.
Ele com o olhar baixo disse:
- Não vou te negar, que você também me tocou, mas eu tenho namorada.
Ela decidida contrapôs rindo:
- Não tenho ciúmes. Eu quero você.
E um novo beijo se intensificou selando o acordo. Um novo amor para Alberto balançou a estrutura do seu primeiro amor. Ele confuso embarcou na condução, que o levou pensativo, pois nunca foi sua intensão viver uma situação como aquela.
Na semana seguinte confessou ao seu amigo Inaildo, que o incentivou dizendo:
- Ei Alberto, você é jovem, aproveite a vida com moderação. A France nem precisa saber, porque o que ocorrer daqui pra frente vai determinar, com quem realmente você quer ficar. Ela sabe e te deu carta branca, então qual é o teu medo?...
Alberto:
- Sei lá acho que é amar a Silvia e depois o que farei com a France?...
Inaildo:
- o tempo te dirá. Segue a tua vida, você ainda está na faculdade... Tem muita coisa pela frente.
Após essa conversa as coisas aliviaram e ele seguiu mesmo conflitando consigo, aceitando da Silvia, o que de melhor ela podia dar a ele.
Os meses foram passando, mas o homem e sua cabeça é um, e nem sempre consegue lidar com conflitos profundamente pessoais, procurou a sua mãe e recebeu dela o seguinte conselho:
- Filho a melhor coisa a fazer é ser sincero e honesto com as pessoas. A France é jovem, simples e já a conhecemos e essa moça, que mal conheceste, vem de outra cultura, pais de classe média vai exigir de você o que você não pode dar. Aliás é bom que se diga, ela a cada dia vai ficar mais possessiva e vai exigir, que você termine com a France.
O namoro com a Silvia se intensificou, a necessidade chamava a obrigação de planejar o futuro e os dias, que em dias, como sua mãe profetizava aconteciam. E a moça exigia mais e mais a sua presença. A paixão arrebatava os costumes, as noites e os dias harmonizavam acerca dos dois, France foi ficando de lado. Porque o amor maduro corria como fogo nas veias e no sangue de Alberto e Silvia.
No cavalgar de dezembro, Silvia conversando com ele, falou de um primo, que morava na Bernaldo Couto e de sua avó, que era professora, e morava na Jerônimo Pimentel...Essas historias remontaram pra ele a infância, em que ele morava por ali, a ponto dele lembrar, que ele era amigo do primo dela, que foi aluno da sua avó e que eles eram aquelas duas crianças, que um dia brincavam e se enxergaram num beijo, ainda inocente.
A partir dai a paixão ficou mais e mais intensa, mas Alberto não conseguia se desatrelar de suas dores internas e tomado de dor, resolveu precipitadamente explodir pra recomeçar.
Na véspera de natal ele tinha dois convites pra seiar, o de France e de Silvia, que sem consultar ninguém resolveu por seu desespero desenfreado ir a casa de France e terminar, mas não conseguiu ir além de dizer, que naquela noite de natal, iria passar com a sua mãe e avó.
Nitidamente confuso sem rumo, como a pensar o que fazer se dirigiu a casa de Silvia, que quando o viu, sob aquele aljôfar, sereno vivo da noite, quis o abraçar, mas ele rejeitou até mesmo entrar.
A mesa semi posta para o natal estava na sala de jantar, que da entrada dava pra enxergar... A mãe da moça em pé, como a esperar a palavra final... Silvia olhando nos olhos de Alberto temerosa perguntou:
- Você não vai entrar?
Ele perdido, balançou a cabeça negando e pediu gentilmente:
- Você pode vir aqui comigo?
Ela o acompanhou até a parada de ônibus, quando a chuva se atrevia a desmascarar a sua dor e ele disse:
- Silvia é difícil pra mim dizer isso, mas terminamos aqui.
Ela sem entender, nem conseguiu dizer além de:
- eu já sabia.
As lágrimas confundidas com a chuva fina foram os únicos argumentos sensatos naquela hora... Ele seguia na condução a olha-la e ela naquela estação se desmanchava em tristezas e dor. Seu pretenso amor se perdia. Se ia embora só o tempo diria.
Alguns dias depois, Gorete amiga dos dois e namorada de Júnior, primo do Alberto resolveu fazer uma festa na casa de sua prima, como forma de reaproximar os dois, pois notoriamente ambos estavam sofrendo bastante e colocou a Silvia no comando da noite.
Os corações ainda bastantes perturbados seguiam desavisados de quem estaria ali. Tudo planejado e aquela noite começou com ela, mais bonita, que as luzes do céu, cantando qualquer coisa, que o seu coração estimulou. Abaixo do palco a piscina, espelhava a poesia da lua, que se ensaiava frente ao tempo meio que chuvoso, que queria se instalar ali. A brisa vinha com a musica na voz da moça, que encantava a platéia, bem como fazia dançar as flores ao redor. Aquela noite em seu estado natural, com os seus amantes seguiam o objetivo de refazer, o que fora desfeito. Enquanto todos dançavam, ela pensava mas se distraia.
Na casa da tia chegava Alberto cabisbaixo, com o corpo febril, procurando alento do primo, quando foi pego de surpresa, vendo que Júnior estava preparado pra sair. E nesse embalo Júnior perguntou:
- Vamos Alberto pra festa da Gorete, assim você se anima um pouco?
Alberto:
- Festa, que festa...não tô sabendo. Mas não estou legal pra ir.
E continuou:
- tia vai ser a senhora a minha companhia, preciso ouvir uns conselhos.
Ela rindo disse:
- tudo bem meu filho, o que você quer me dizer?
Mas a insistência do primo falou mais alto, quando ele se intrometendo disse:
- Deixa de bobagem, vem comigo, que a Silva vai pra lá.
Como um balsamo na ferida ele ergue-se e com um brilho no olhar, como rejuvenescido da dor concordou rindo, nem consegui mais falar. Todo feliz por uma oportunidade de ir ver como a sua amada estava.
Se despedindo da sua tia, eles seguiram rumo a casa da prima da Gorete. Ao chegarem lá entraram sorrateiramente, sob os lençóis da noite.
No palco ainda se apresentava a Silvia, que com o seu olhar firme o descobria no meio da multidão. Seu cantar parecia ir na sua direção e o coração respondia a cada batida do violão. Ela ali linda como na primeira vez , ocupando o palco como um furacão e ele nas últimas cadeiras solitariamente, com seu traje social apenas assistia, o povo aplaudir de pé apresentação de Silvia. Mais duas ou três musicas foram cantadas e a noite estava aberta pra novas situações.
Uns pularam na piscina, outros dançavam ao som da musica romântica, que o "dj" tocava na pausa da cantora e ela se despira para mais um show naquela água prateada, que com o agito dos casais parecia onda encantada. Ele do seu canto a observar atônito, todo aquele brilho e carisma, que ela deixava no ar começando a fazê-lo acreditar, que poderiam reatar. Ele queria se aproximar, mas o receio da sua imaturidade o impedia de ao menos tentar.
As luzes se apagaram e um a um, dos poucos casais, que ali estavam saíram pra deixar o palco só para aqueles amantes.
Ao entender o sinal, como ele não vinha, ela nadando, se aproximou da cadeira onde ele estava e com o queixo na borda da piscina disse graciosamente:
-Por que você não entra na água?
Ele falou:
- Estou meio febril, mas se você insistir eu entro com roupa e tudo.
Ela rindo foi se distanciando da borda e disse baixinho, só pra ele ler os seus lábios:
- Vem.
Como a sair de um purgatório, ele nem pensou e se jogou na piscina com sapato, buscando a redenção na direção dela. Risos e um beijo molhado como nunca havia sido dado, anistiava a saudade, que aqueles dois corações, por dias sofriam. Segundos, sob os olhares furtivos da vegetação, acobertada pela escuridão da noite, em que a lua ainda teimava em prosar. O som mecanicamente romântico, acertadamente tocando, sem ninguém estar lá pra testemunhar.
Era só deles aquele momento, que parecia funcionar, mas após o beijo ela, se afastando apenas disse:
- Ainda estou apaixonada por você, mas não vai mais rolar. Eu agradeço a todos, que fizeram isso acontecer, mas eu estou acordada e não quero mais passar pelo, que há dias passei. Minha mãe e meu travesseiro foram os meus confidentes. Naquele dia, depois que você saiu de lá,
chorei, chorei tudo o que tinha pra chorar. Eu errei por começar. tudo que começa errado, a tendência é terminar errado. Então, te peço, por favor, é melhor que você vá.
Com os olhos marejados, com a roupa encharcada e febril, ele a olhou se desculpou e sem se despedir dos que estavam na casa, ele saiu sem rumo.
Até encontrar turvamente a casa de sua tia, onde pode chorar e ser acalentado por o acontecido ter dado errado.
Dizem, que o amigo do Alberto discutiu com a Silvia, por causa dele ter ido embora ferido, dizem que ela e ele ficaram bem maus. A dor, aos poucos sufocou as possibilidades deles se reaproximarem, por causa da imaturidade dele.
Na avaliação final de estatística ainda se viram. Ele do lado de fora torcendo pela boa avaliação do amigo e ela, que entrara na sala, o olhando e direcionando a ele, boa noite, que fora correspondido com boa prova.
No tempo que começou aquela avaliação, não durou cinco minutos e ela, visivelmente segurando o pranto, entregou a prova, em branco, a professora, que sem entender, quis socorrer, mas Silvia sem dar chance pra alguém, saiu porta afora e nunca mais os dois se viram.