Não para sempre
Paris. 15h10minhrs.
Ele sentia o vento no rosto, as milhares de vozes em sua mente estavam silenciosa. Seu cérebro hiperavançado, era um fluxo constante de raciocínio e informação. Era um imortal e sua divindade não estava mais com ele. Sorriu mais leve e feliz.
Ele ainda conservava seus poderes. Mas, sem sua divindade sentiria dores, se machucaria e ainda se quebrasse algum osso levaria o dobro de tempo para recuperar- se. Não valeria ser o super-homem. Ele precisava trilhar o caminho para aprender e se desenvolver.
Trancou a porta do apartamento e saiu para rua. Trazia nas mãos uma caixa com livros, panos e caixinhas. Na rua um cheiro de sândalo invadiu suas narinas.
Então você o fez outra vez. Só me diga o por quê?
Ele se virou para ela. Bela, mais alta que ele e o corpo de uma guerreira. Com músculos definidos e cicatrizes. Guerra e sabedoria eram tudo o que ela carregava.
A primeira vez que eu o fiz era necessário. Perde- se uma divindade e ganha- se uma vida. A segunda e última vez também foi. Agora protege- se muitas vidas. Fortalece um planeta, um mundo.
Ela o olhou curiosa, havia muitas perguntas em sua mente, mas apenas uma ela fez. Aliás, não fez, ele adivinhou.
Não, Palas. Não é reversível. Não tem volta. Ou seja, devo me comportar.
Ele guardou a caixa no banco de trás do Citroen DS 1975. Ela o ficou encarando. Ele se virou para ela e sorriu.
Há mais uma coisa. Não damos certo por um motivo. Meu caminho é longo e nunca é no mesmo lugar. Preciso me mover até certo ponto. Seria cruel fazer você me acompanhar. Seu caminho foi traçado em outra direção. Há outro trabalho pra você. Mesmo não sendo cultuada como nos tempos antigos, guerra e sabedoria ainda existem. Você ainda precisa cuidar de muita gente. Se cuida, Palas.
Ela segurou seu rosto entre suas mãos. O beijou na boca veio quente e molhado pelas lágrimas. Não lágrimas de tristeza e nem tampouco o beijo era cheio de saudade. Era o eterno beijo de dois amantes. Um beijo que os aqueceu.
Ao se separar ele notou que também chorava. Sorriram um para o outro e se separaram. Não pra sempre.
Wesley Rezende