EU NASCI !
Nasci num ano de Copa do Mundo, às 18:06h , uma Sexta-feira de sol pela manhã e chuva de tarde. Pesava 3.505 Kg e media 51cm. Bem, pra chegar até o meu nascimento, primeiro tenho que contar um pouquinho da história dos meus pais, André Luiz (pai) e Ana Paula (mãe).
Tudo começou em 1976. Papai era um diretor de teatro, e dos bons. Ele, naquela época era gerente de banco mas só pensava no teatro, que amava. Mamãe era funcionária pública federal, passava os dias atendendo seu chefe chato, que só sabia ler jornais enquanto a pobre coitada ficava em pé atendendo a público e carimbando formulários. Minha mãe só ficava feliz quando focalizava aquela figura magrela, com aquele cabelo esvoaçante quase cobrindo os olhos azuis como o céu e com uma maquina pendurada no pescoço, ela não teve dúvidas, era o amor da sua vida! Amor a primeira vista! Só tinha um problema: Papai nem sabia que ela existia. Apesar de morarem na mesma rua , não tinham nenhum amigo em comum para apresentá-los, aliais tinha tia Mirinha, que era comerciante naquele bairro. Durante anos mamãe perseguiu aquele amor platônico, sem sucesso! Quantas foram as noites que ela o viu passar na rua que eles moravam, com um litro de coca-cola e uma bisnaga que seria seu lanche. Ela só de longe olhando, sem coragem de se aproximar, fora as outras vezes que o encontrava na padaria ou na quitanda comprando alguma coisa.
O tempo passou, mamãe teve outros namorados e papai outras namoradas e um nunca chegou a falar com o outro. Até que, em 1978, a coisa mudou. Mamãe estava numa fase meio difícil. Tinha sido assaltada e estava traumatizada, com medo de sair de casa, além de estar de saco cheio de farras. Resultado: Passava as noites em casa batendo papo no computador. Papai também já tinha cansado das noitadas! Finalmente descobriu que o movimento rock morreu e também encheu o saco das farras! Assim como a mamãe, também resolveu afogar as mágoas nos bate-papos virtuais. E foi assim o primeiro encontro dos dois. Num bate-papo virtual. Meu pai não sabia quem era a minha mãe. Mas esta, bem mais esperta, desde o início, quando ele disse que gostava de teatro e fotografia e se chamava André, descobriu que era o seu amor platônico de anos atrás. Marcaram um encontro às escuras, finalmente se encontraram em um shopping , papai gostou da mamãe e no mesmo dia começaram a namorar.
O resto foi muito rápido! A afinidade era imensa. Agora sei que almas gêmeas existem. Um é igualzinho ao outro. Minha mãe sugere uma maluquice, como saltar de "Bungee Jump", por exemplo, e meu pai concorda e vice-versa. Não deu para segurar! Para desespero dos meus avós, com quatro meses de namoro eles resolveram morar juntos. E foram!! Isto foi no carnaval de 1979! E que carnaval!! Parece que adivinharam que no ano seguinte eu não ia deixá-los pular e saíram em quatro blocos. Eles dizem que foi o melhor carnaval de suas vidas! Trocaram alianças em plena avenida, ao som do samba enredo "Incrivel, fantástico, extraordinário" da Portela! Quando todos achavam que os dois "malucos" só estavam brincando de casinha, resolveram casar sério, na Igreja, com tudo que têm direito! Como não poderia deixar de ser, a cerimônia, apesar de ter tudo como manda o figurino, teve suas inovações. Nuvem de fumaça na entrada da noiva, Pavarotti e U2 na entrada do noivo, A Cor do Som no final e uma festa com muito rock! Eles estavam super felizes!!
Acho que já falei muito dos meus pais e até agora não entrei nessa história. Vou falar um pouquinho de mim! Tudo começou com um sonho da minha mãe. Ela sonhou com meu avô, pai do meu pai. No sonho, ela disse que estava triste porque ele não conheceria os netos, filhos dela e do papai. Sabe o que ele disse? "Quem falou que eu não conheço seu filho?". Mamãe acordou impressionada! Dias antes tinha feito o teste e deu negativo! Isso foi num sábado. Na quinta-feira da mesma semana, foi ao shopping bater perna e aproveitou para entrar numa farmácia e comprar um Diet Shake, pois estava se achando cheinha. Na hora, bateu o estalo e ao invés de Diet Shake, comprou foi o teste de gravidez. Correu para casa e fez logo o tal teste. Deu positivo ! Ela não acreditou muito achando que estava errado, já que o de laboratório tinha dado negativo. Ligou pro meu pai que estava viajando e na maior calma do mundo deu a notícia. Ele também não botou muita fé. A única que acreditou que eu estava a caminho foi minha avó. Na mesma hora ligou para prima da mamãe, que é médica e faz ultrassonografia e informou que mamãe estava indo lá. Não deu outra! A médica me viu na telinha pela primeira vez! Eu era apenas um pontinho preto! Devia ter umas 7, 8 semanas. A partir daí, começou a contagem regressiva. Mamãe foi à sua primeira consulta onde o médico lhe passou as primeiras recomendações. Várias foram às consultas. E várias foram as fotos que meus papais-coruja fizeram de mim ainda no útero. O engraçado é que nenhum dos dois conseguiam me visualizar. Apenas acreditavam no que os médicos se esforçavam para mostrar na tela. No final da gravidez, mamãe já não aguentava mais! A barriga estava enorme! Aliás, eu é que estava enorme, crescendo pra caramba! Estava perto e a previsão para o meu nascimento era 05 ou 06 de julho. Depois do feriadão de São João, Mamãe foi à sua consulta. O médico a examinou e concluiu: Tá na hora! Mamãe gelou! Era apenas uma consulta! Ela ainda não estava preparada pro parto! Esperou nove meses para me conhecer e na hora "H" deu amarelou. O que iria acontecer? Papai tentava acalmá-la, mas estava ainda mais nervoso que ela.
Chegaram ao Hospital ao meio-dia. Daí até eu dar as caras foi uma longa jornada! Eram 04 e meia da tarde quando o médico chegou ao Hospital. Finalmente, chegou a hora. As enfermeiras vieram buscar a mamãe, que partiu ainda meio preocupada e sem acreditar que aquilo tudo estava acontecendo. Papai ficou com dor de barriga e correu para o banheiro para vomitar. Passou um tempão lá dentro. Já recuperado, Correu atrás do médico que lhe informou que infelizmente ele não poderia ficar na sala de parto. Meu pai ficou aborrecido e minha mãe idem! Quem ia segurar a mão dela na hora da dor? O jeito foi o papai assistir e filmar tudo pela janelinha mesmo!! Começou o parto! Eu já não aguentava mais ficar naquela escuridão! Dei o maior trabalho pros médicos para sair da barriga da minha mãe. Também... Eu estava lá no maior sono, com a mãozinha na cabeça e aquele bando de mascarados vieram me acordar! Meu sono era tão pesado e eu tão grande que o médico teve que botar um ferro dentro da barriga da mamãe para me tirar! Tadinha... Até hoje reclama das dores!
Finalmente, consegui sair! Me acordaram e abri o maior berreiro! Detesto ser contrariada! Já nasci sob os flashes! Um enfermeiro fotografou tudo! Fui examinada por uma titia mascarada e tirei 9 no teste de Ap-não-sei-o-que. É uma boa nota! Enquanto isso, papai armava o maior fuzuê pelos corredores do Hospital! Eu tive até torcida organizada! Para desespero das enfermeiras, que chamaram meus pais de arruaceiros. Deve ser despeito da alegria que ele estava sentindo pela minha chegada! Minha Mãe já tinha ido pro quarto e ainda estava meio inquieta, já que ainda não tinha me visto direito. Quando ela me viu eu ainda estava todo sujinha, chorando. Só depois de um tempão é que me levaram para perto dela e pude sentir o gostinho do colinho da mamãe. Dei minha primeira mamada e mamãe se desesperou com a dor. Hoje ela está mais acostumada e até cochila enquanto eu mamo. Papai fica de olho para ela não me derrubar! Só que isso jamais vai acontecer! Domingo, fui pra minha casa. Adorei meu quarto, cheio de bonecas, pois mamãe adora! Nas duas primeiras noites Vovó dormiu com mamãe, que ainda estava toda dolorida. Foi bom, pois eu chorava a noite toda, deixando meus pais de cabelo em pé. Na terceira noite, Vovó foi dispensada e ficamos só nós três: Eu, papai e mamãe. Eles ainda não são os mais experientes do mundo, pelo contrário, estão se esforçando! Fazem um trabalho conjunto organizado. Mamãe limpa meu cocô, enquanto papai corre pro banheiro pra vomitar. Depois ele volta e limpa meu umbigo, porém como mamãe tem medo de me machucar, ela mesmo faz a tarefa. O banho é dado pelos dois. Papai me segura e mamãe esfrega.
Hoje eu já me acostumei com meus pais-coruja. Eles me paparicam e me fotografam o tempo todo. Já fiz cocô na mamãe e xixi na cara do papai. Acho que não sou uma menina chata! Só choro quando estou com fome ou quando tiram minha roupa! Papai e Mamãe ainda estão aprendendo a cuidar de mim e descobrir minhas manhas e manias. Eu entendo eles e faço minha parte: choro pouco. Adoro o colo da mamãe e estou ficando viciada em dormir em cima do papai.
Pois é... Acho que deu pra me conhecer um pouquinho, não foi? A cada dia estou crescendo um pouquinho e, modéstia a parte, cada dia mais bonita! Sou a cara do meu pai com os olhos da minha mãe! Papai já traçou planos para mim e quer que eu seja atriz. Mamãe é mais pé no chão e prefere que eu seja cantora de pagode. Como você pode perceber, minha história não acaba por aqui! Ela está apenas começando!
Aguarde novas histórias de Eu Nasci!