A volta de Itagibá
Itagibá era um índio guerreiro, jovem, formoso e casado com Potira, a mais bela índia que essa terra já concebeu.
Os dois viviam felizes e sempre apaixonados, quando estourou uma guerra contra uma tribo que ficava um pouco distante de sua aldeia. O jovem guerreiro teve de partir para a batalha deixando partido o coração de sua linda esposa que o acompanhou até a margem do alegre rio que agora também estava tão triste.
A bela índia ficou olhando a canoa que levava seu marido e junto com ele a metade de seu coração, até que sumiu na curva do imenso oceano de água doce.
Os dias se passaram e se transformaram em semanas e as semanas em meses e nada de resposta ou qualquer notícia a respeito de seu amado. Todas as tardes ficava sentada na areia com a esperança de que Itagibá apareceria novamente lá na curva do mesmo rio que o levara para longe de si.
Depois de longos meses, recebeu um bilhete de um canoeiro que passou por sua aldeia e grande foi a expectativa daquela que há muito esperava por notícias do marido. Ao correr os olhos por aquela inquietante missiva, quão grande foi a decepção — a carta dizia assim:
— Sinto muito em ter que lhe enviar essa triste mensagem, mas seu esposo nunca mais retornará, pois morreu flechado lutando bravamente numa instigante batalha. Naquele instante o coração da formosa índia sangrou e o sangue vazava por seus lindos olhos cor de jaboticaba em forma de lágrimas tão cristalinas quanto as águas da cachoeira onde costumava se banhar.
Contudo, Potira não se deu por vencida e passou a vigiar às margens do rio com a esperança de por um milagre a outra metade do seu coração retornar ao seu peito.
Diante de tamanha tristeza, Javé, o Deus todo poderoso, se compadeceu da jovem e preparou-lhe uma surpresa. Estando ainda no local da partida do marido, pensou: vou-me embora desse lugar antes que a dor da saudade e da lembrança de todo me consuma. Ao dar as costas para o imenso rio e após ter dado alguns passos, ouviu lá no fundo uma voz cansada que gritava com dificuldade: Potira! Meu amor, sou eu.
Voltando-se novamente, viu ao longe uma canoa e um homem que acenava. O coração dela fervilhou ao reconhecer que era seu esposo; o grande amor de sua vida estava de volta e bradou aos ares: é ele... é ele... é o meu grande guerreiro, ele voltou para mim! De fato, ela tinha razão, Itagibá, o homem que fora dado como morto estava de volta. Logo que chegou à margem, pulou da canoa e saltou nos braços de sua amada.
Os dois se abraçaram fortemente, beijaram com intensidade e se puseram a dançar como dois bailarinos na areia branca do majestoso rio. Parecia um sonho para ambos, mas não, era uma realidade, o guerreiro estava de volta.
Itagibá contou à sua mulher que foi flechado e caiu em um precipício, permanecendo desacordado por muito tempo. Até que um dia, abriu os olhos e viu que estava em uma cabana sendo tratado por um velho índio, quando todos imaginaram que estava morto e enterrado.
O velho índio curou as feridas e disse para o jovem Itagibá que ele estar vivo era um grande milagre.
Foi aí que Potira entendeu e disse para o seu amado:
— Meu amor, Javé leu a carta que enviei a Ele no formato de lágrimas e respondeu-me trazendo você de volta.
Ao ouvir as singelas palavras de sua amada, Itagibá a pegou no colo e a levou para sua oca e os dois viveram felizes para sempre.