O Homem capital
Cercado de mata ele aprendeu com sua mãe como cuidar dos animais e plantas, mas foi com o seu pai, que ele aprendeu o ofício de cortar e vender madeira.
Tão logo o velho morreu, ele se tornou o herdeiro. E por sua grande atividade, rápido ficou conhecido, como o senhor das toras.
Era só encomendar, não tinha hora. Já era automático. E entrar na mata com suas máquinas pra ele sempre foi um desafio, simples de fazer. Não tinha medo de onça, de cobra ou de qualquer animal peçonhento. Não havia Curupira, mãe d água ou qualquer entidade sobrenatural, que o parasse.
Saiu de seu quintal e viciado começou o seu legado, derrubando centenárias andirobeiras, ipês , pau mulato ou castanheiras.
Pra ele o importante era bater a meta, enriquecer e permanecer o rei da densa floresta.
Incentivava atearem fogo, fazerem a queimada pra criar gado, pra plantar açaí ou pra pôr ali outra cerraria, com isso tantos outros surgiam.
Nessa fantasia de ser o rei, ele destruio a terra que o pario. Partindo pra outras paragens, sem perceber o colocava em perigo.
Sua mãe no leito de morte pediu:
- Meu filho, por favor não destrua a mata. Também é nossa casa.
Ele a enterrou sob o juramento de considerar aquele pedido.
No entanto a economia deu o seu aviso e ele, cego e viciado, com medo de perder tudo, com medo de perder sua imagem , continuou a devastar a mata selvagem.
Falava pro seus filhos, dizia que o progresso era inevitável e que a mata era autosustentável. E o que importava era o dinheiro vivo, que sempre eles teriam pra abastecer a casa e assegurar o futuro de todos, completava argumentando, que fornecia emprego diretos e indiretos e se a cidade crescia era porque ele se movia.
De fato naquela pequena cidade, emergida do buraco das árvores, que seu pai e ele constituíram estava ali como um sinal, para o bem ou para o mal.
A medida que o tempo passou a cidade cresceu, o senhor envelheceu ensinando aos filhos o ofício do avô, que sem nenhum amor, abusava da floresta.
Certa manhã, enquanto o rádio dizia, que o futuro estava comprometido, o dia escurecia, a mesa do café tomada de cinzas e seus filhos sufocados mal podiam respirar. Apareceu as margens do Guajará milhões de peixes intulhando a água da cidade. Um vendaval descomunal arrebentava a fiação, fazendo muitas famílias ire com suas casas ao chão e em alguns lugares a seca era proeminente.
Não chovia e o calor aquecia, nuvens de mosquitos e carapanãs se faziam durante a noite e o dia.
Começou a faltar alimentos, porque não havia caça, nem pescado, a floresta em brasa por seu legado de Incentivar queimadas.
Acabaram as madeiras nobres e os garimpeiros, como cupins, tomavam conta do lugar.Não havia ordem, só o capital a falar.
Agora, como não havia madeira o rei era do garimpo, que nem queria ouvir falar em parar, que dava emprego e lucrava muito mais, mas a cidade agonizava e sob nova titularidade foi apelar ao novo empresário, que de cara se negou a colaborar.
O caos era a ordem daquele lugar. Desequilíbrio total, fazia a população buscar soluções nem sempre adequadas pras horas.O colapso veio fazendo vítimas, a começar por um dos filhos e mulher do senhor das toras, que mesmo com todo o dinheiro foi incapaz devolver a vida aos seus ente queridos.
Combalido começou a pensar e lembrou da jura a sua mãe, começou a enxergar, que a cidade não existiria sem equilibrar com a mata.
Foi aí, que ele foi ao senhor do garimpo e colocou a limpo, que não haveria amanhã se eles continuassem a devastar.
Acontece, que o rei do garimpo, ainda novo passava pelo processo do vício e de só enxergar a riqueza, que conseguiria. Achava que o dinheiro tudo compraria, mas o velho rei das toras, consciente pela dor das perdas e da jura a sua mãe. Mostrou,que tudo que incentivou causou sofrimento, morte e dor.
Profetizando ao rei do garimpo, que se não houvesse um equilíbrio, mais catástrofes viriam e dinheiro nenhum seria suficiente pra argumentar com o fim.
Disse também, que se olhasse ao redor o importante, não era ter muito pra garantir o futuro, mas ao menos ter o futuro para preservar vida de todos.
No dia seguinte, o calor subiu desgovernadamente e o velho rei das toras, rico, que plantou segurança com seu dinheiro amanheceu sem vida.