A menina da ladeira
Conheci uma menina, chamada Bia, na verdade o seu nome era Bianca, mas ela gostava que a chamassem de Bia. Ela morava em um bairro pobre e sua casa ficava em uma ladeira, onde o vento sussurrava segredos antigos e as grandes árvores testemunhavam suas jornadas diárias. Ela descia a ladeira , como se a própria inclinação da rua a impulsionasse, guiando-a por caminhos desconhecidos. Bia, passava, seus pés dançando pela calçada, pisando com eles descalços nos paralelepípedos irregulares que cobriam a rua. Quando encontrava uma árvore, Bia sentava, e se conectava com a tranquilidade da sombra que ela oferecia sentindo o aroma cítrico que pairava no ar.
Certo dia, em silêncio profundo, a menina adormeceu. No entanto, algo mudou na atmosfera. Alguém que a aguardava pacientemente partiu para sempre, deixando um vazio no coração da menina. Um grito ecoou no silêncio, despertando-a para uma realidade que agora se apresentava de forma diferente. Chorando, a menina se levantou e começou a correr ligeiro, sem parar. Debaixo do pé da árvore, ela tomou consciência de que sempre há alguém a sua espera, como se o universo costurasse histórias entrelaçadas, e a vida prosseguisse em sua dança inexorável. Enquanto corria, um poeta com muita sensibilidade começou a compor, enchendo a noite com um belo poema escrito para ela. Estrelas brilhavam no céu, testemunhando a jornada da menina. O poeta, em prece ao luar, expressava sentimentos que ecoavam nos recantos daquele lugar.
Numa noite vazia, a menina sentiu a solidão se instalar, mas a beleza do momento a envolvia. "Tão linda não, não vá", murmurou o velho poeta, como se as estrelas pudessem ouvir seus pensamentos. Chorando e correndo, passava, por debaixo do pé da mesma árvore que sempre se acostumou ficar, encontrou consolo e força para continuar. Havia algo mágico naquele lugar, onde cada passo contava uma história, onde cada descida era uma jornada de descoberta.
A menina que morava na ladeira aprendeu que, mesmo diante das perdas, a vida seguia seu curso. Ela descia a ladeira sem parar, pois sabia que, debaixo do pé de alguma árvore , sempre haveria um poeta a esperar, para compartilhar a dança efêmera da existência. E, quando a fadiga a alcançava, ela se sentava para poder descansar, renovando suas forças para as próximas descidas e ascensões que a vida lhe reservava.