TRISTE DESTINO
Uma massa de ar frio adentrou meu peito, enquanto a ouvia falar. Senti-me gelada, carne e espírito. O frio e a dureza de suas palavras eram cruéis e desumanas. De onde vinha tamanha mágoa? A chuva de impropérios e de revolta começou suave, mas aos poucos, foi engrossando. Levantei e pedi que se calasse, não tinha que jogar sobre nós suas frustrações e insucessos. Meu pedido foi ignorado e suas palavras feriam-nos como granizos ferem as plantações.
A cada explosão, o vazio que criara em nossos peitos se tornava maior, mais profundo e doloroso. O tormento era enorme. Precisávamos fazer algo para que percebesse que, ao alimentar revolta, ódio, rancor e mágoas em seu coração, estava se autodestruindo. Seus gestos e palavras causaram-me grande emoção. Vagarosamente, aproximei-me da garota e a abracei fortemente. Pega de surpresa, por um momento, silenciou, porém, logo em seguida, voltou a falar. O tom já não era o mesmo e, aos poucos, explicou que estava enfrentando um momento dificílimo, acabara de saber que estava com câncer e que esse estava num estágio bastante adiantado.
O que dizer nesta hora? O que fazer? Pensei em pedir-lhe que fosse forte e que não tivesse medo das difíceis horas que a vida lhe reservava, contudo considerei hipocrisia da minha parte. Por mais alguns momentos, mantive-a em meus braços e, ao afastar-me, procurei ser o mais natural possível aconselhando-a a curtir cada minuto, mesmo diante desse grande infortúnio.
Tenho-a visitado, duas vezes por semana e passado agradabilíssimos momentos em sua companhia. Seu rosto pálido e magro se ilumina quando lhe conto alguns romances. A cada dia, está mais fragilizada; todavia, é só doçura e amor.