Maria em seu diário escrevia sobre a enorme dificuldade de ser livre. Não ser vassalo das culpas do passado e nem das preocupações com o futuro. Ser livre é ter tempo para pessoas e coisas que se ama. É sonhar e recomeçar sempre que necessário. Mas, pensar e proteger a emoção é algo difícil a ser compatível com a liberdade plena. Maria estava lutando pela liberdade, era adolescente e ensaiava entrar no mundo dos adultos. Nossa liberdade é contaminada pelas tessituras históricas, sociais, geográficas e psicológicas... Seremos mesmo livres diante de uma genética que nos aponta tantas propensões à certas escolhas? Em diversas situações, subitamente Maria se descobria livre e, via a possibilidade de transformar a própria vida e, ainda superar as condições sociais, religiosas ou pessoais que a impedia, por vezes, de enxergar todo leque de opções disponíveis à escolha. Maria estava fazendo o vestibular para Medicina, uma disputa acirrada. Mas, ela era estudiosa e dedicada. A mãe de Maria que era viúva temia muito que sua filha se frustrasse... Mas, ser livre inclui fracassar e vencer... Ter dúvidas e impasses, sofrer diante de escolhas que tem que fazer. No fundo, ser livre é um desafio constante... e ser mulher numa sociedade opressiva e patriarcal é difícil. Ainda no século XXI, apesar de sermos a maioria, somos tratadas como se fôssemos minoria... um paradoxo. Maria conseguiu passar para Medicina, a mãe toda orgulhosa foi costurar o seu primeiro jaleco com nome bordado em vermelho. As linhas delicadas do bordado traçaram o afeto e a vitória que entrelaçados sintetizaram a trajetória da liberdade.