TRAVESSIA (BVIW)
Quando o ônibus estacionou junto ao alojamento, um sentimento de alívio perpassou o grupo de brasileiros e palestinos que buscava escapar aos horrores da guerra, na Faixa de Gaza. Ultimamente, o antigo conflito entre o Hamas e Israel vinha se agravando. Os bombardeios frequentes deixavam atrás de si um rastro de dor, sofrimento, morte e destruição.
Os nomes da lista começaram a ser chamados, e Hannah se emocionou: será que atravessaria as fronteiras, finalmente abertas, do Egito? Brasileira, de origem palestina, a jovem tinha ido morar em Gaza, em companhia da avó. Essa agora estava morta, mas havia Hassan, seu amor palestino. Retornar ao Brasil não estava nos seus planos. Então viera a guerra...
Hannah pensava consigo: se tudo desse certo, logo estariam no Cairo, de onde sairia o voo para a capital brasileira. Ao ouvir o próprio nome, ela deu dois passos adiante, mas hesitou: o corpo estremeceu, o coração disparou. A moça permaneceu hirta, apenas acompanhando com o olhar o grupo que, aflito, se movimentava rumo ao sonho da liberdade, pondo fim à profunda angústia que se arrastava há meses.
Naquela tarde, a imprensa noticiaria sobre o grupo de pessoas, entre brasileiros e palestinos, que deixaria a zona de combate — menos uma, que havia desistido na última hora, alegando “motivos pessoais”: o amor havia vencido sua guerra íntima.
Tema da Semana: Livre (conto)