A tela mágica
Era sempre a mesma coisa nas matinês e sessões do cinema de bairro, ou da cidade , domingo à tarde:
A ansiedade e o dinheirinho contado de ante-véspera, para garantir a presença em tais sessões barganhadas, com a família, por afazeres domésticos.
Assim no dia, ... após a fila interminável, a expectativa, a vontade de voar e correr naquela luta para garantir o melhor lugar da sala, de onde enxergasse toda a magia da tela e assim, aquietar o coração.
Finalmente, as luzes se apagavam e os apelos começavam, entre xingamentos momentâneos:
- Silêncio, quero assistir o filme.
Apulpos ... e grunhidos rasgavam o espaço atingindo a tela e a seus personagens alienados, que em noites de gala exibiam roupas chicks e brilhantes de estrelas.
Tal brilho entrava em nossas retinas, baguçando nosso imaginário, a ponto de crermos que as estrelas da tela, agora, éramos nós mesmas/os.
Enfim, após o desabafo e palavrões, reinava o silêncio esperado.
Aí, quem disparava em nossos corações taquicardiacamente vibrando os sons que retumbavam daquela louca aparelhagem acústica.
Nessa ocasião, o som dos filmes nacionais, eram inexatos e chiados. Por isso, a preferência era para os filmes estrangeiros de sons impecáveis, principalmente nas cenas de suspenses. Assim, em determinadas cenas, entre suspiros nervosos nossas mãos apertavam, estrangulando os assentos das poltronas.
Ah, o coração.... ficava inchado de tamanha beleza e sinestesias explodiam variadas emoções no escuro; enquanto lágrimas pingavam encharcando lenços e rostos, aumentando o calor.
- "Não, ... bobagem. Era só um cisco teimoso nos olhos.", admitia nossa valentia fingida de românticos.
Finalmente, a trégua vinha nos intervalos das matinês, após a fila rápida ao banheiro, o retoque da maquiagem, os olhos enxutos, nossas almas respiravam fundo.
Agora, o silêncio retornava sagrado, enquanto as luzes novamente se apagavam e o mocinho se declarava à eleita de sua história.
Hoje, o astro é o herói que enfrenta bombas e ainda consegue amar alguém, após intensa batalha de carros amassados, na corrida desesperada do sucesso instantâneo.
A arte mudou , ou o foco foi apurado pelos sucessivos anos após o saudosismo de um Fellini ou Charles Chaplin?
Ainda se pode rir inocentemente numa cena do Gordo e magro; ou quem o faz não está sendo politicamente correto?
Não sei ao certo.
Contudo, ainda a enorme tela de cinema é tudo de bom para mim. Uma vez , que se o filme não agradar, "podemos sair à francesa", sem mudar a cena.
Todavia, continuo torcendo por um bom filme cujo elenco seja contagiante naquela mega tela de cinema.
Então, que venham boas histórias: Luzes, câmera e ação.
- BOM FILME para todos.