Presságo Maria
Três Marias cruzavam a rua dos alfandegários. Levavam linha, roupas e sacolas em sua cabeça. A primeira, a qual tinha movimentos rápidos e reflexos de quem estaria atrasada para algum compromisso, atravessara a rua. Ela era bem velhinha, enrugada e vestia vários trapos coloridos, com um pano branco em sua cabeça, escondendo aquele cabelo armado e grisalho, da grande coça que a vida tinha lhe dado. A segunda, era mais nervosa ainda. Fazia barulho, falava muito alto, e fazia piadas como - Tô só o desmantelo, toda arrupiada meu Deus! - A terceira era moça, tinha muita curiosidade, mal sabia orquestrar seus passos diante daquele povo. Era menina bonita, moça nova. O que era lindo de ver em seus olhos, era sua generosidade e apreço pela sua família. E todas levavam em sua cabeça sacos de farinha, que seria entregue a um comerciante da feira, o qual lhe daria bons trocados.
-Bom dia minha senhora. - Falou o vendedor de mandioca.
-Bom dia meu fio! Como é que vai sua mãe, ein?
-Vai bem graças a Deus - Respondeu o comerciante.
-Oiá meu fio, eu trouxe oque suncê me pediu - Falou a senhorinha com alegria nos olhos.
-Oh sim Dona Maria! agradecido! - Maria recebeu seus trocados e foi embora. O sol era para cada um naquele dia, mas Dona Maria já estava acostumada com o sofrimento e o tempo. Oque mais lhe deixava feliz era de ver o seu sertão, terra de gente honesta e trabalhadora. Terra onde ela cresceu com seus irmãos e sua mãe querida, que lhe dava saudade no peito, de uma infância jamais esquecida. Sua filha que vinha logo atrás, a Maria José. Estava fuçando as barracas, procurando um doce de banana. A neta, moça de Dona Maria, Glória. Vinha acompanhado os passos de sua vó, olhando o céu, as frutas que lhe enchiam o olho e um rapaz a qual se encantara. Dona Maria era muito ligeira, seu interesse eram suas galinhas e seu pequeno roçado, que ela herdou de seu pai, já que seus irmãos tomaram tudo e a única coisa que lhe sobrou, foi o roçado com um grande pé de goiabeira. Eram três quilômetros. Tinham sede, porém no caminho levaram só mandacaru. Tirado do mato seco que as sercavam.
-Oh mãe! Quanto foi que deu os trocado do seu moço? Perguntou Maria José.
-Pra que tu quer saber cão ruim?! Pra gastar com tua bebedeira? Tá querendo me roubar de novo? É diabo?
-Oxe mãe! Não pode nem mais fazer uma pergunta! Nãn!
Em meio a discussão das duas, Glória ainda pensava no moço, no cheiro de sua casa, no seu vestido de são joão, no pai... Mas logo o seus pensamentos foram embora quando a carroça de linha chegou. Dona Maria logo pagou e subiu com sua filha e neta. Glória sentou-se e começou a observar cada pessoa que ali se encontrava. Observando vagarosamente, viu a fome, a perda, a dor e a culpa. Se sentiu triste, por saber que um dia, aquelas pessoas perderam tudo e não ganharam nada com o seu esforço e sofrimento. Em seu presságio de Maria perguntou a Deus. Por que a vida tinha dado tão pouco a elas, se o mundo tinha tanto meu Deus?