CRISÂNTEMOS AMARELOS (BVIW)

Naquele Dia dos Mortos, o Cemitério estava lotado de visitantes. Estevan caminhou até o fim da passarela de concreto, dobrou à esquerda, chegou ao seu destino. Diante da lápide em granito preto, olhou com amor a foto em moldura dourada, repetiu em voz alta o epitáfio: “Saudades eternas de seu amor”. Era ele o eterno amor de Mariah. Afagou as flores frescas que quebravam a austeridade da lápide. Desde que fora morar em Portugal, tinha contratado os serviços de manutenção da Funerária Bomfim: certa dona Diana trazia tudo limpo e enfeitado de crisântemos amarelos, último pedido de Mariah.

Estevan não se conformava. A esposa tinha partido antes do combinado, vítima de enfermidade rara. Ele, por sua vez, tinha se fechado para o amor: não havia quem pudesse tomar o lugar da amada. Olhando a foto em que ela lhe sorria, Estevan não conteve as lágrimas. Chorava baixinho, quando uma voz feminina, de timbre delicado, chegou-lhe aos ouvidos. Abriu os olhos e deu com uma linda mulher que o olhava de forma intensa. Por um momento, achou que fosse desfalecer, sentiu as vistas turvas, as pernas trêmulas: à sua frente estava a personificação de Mariah! Imperturbável, a moça apresentou-se:

— Sou Diana. A que cuida do túmulo...

Um ano depois, no Dia dos Mortos, Estevan adentrava novamente a passarela do Cemitério. Desta vez, seguia de mãos dadas com Diana. Serenos e felizes, cada um levava um vaso de crisântemos amarelos.

Tema da Semana: Era Dia dos Mortos (conto)