Terra à vista!
Vicente Pinzón, a bordo da nau capitânia, percebe que a tempestade diminui. O sol, que estava muito mal-humorado, sorri, e sua luz agora brilha sobre as ondas. O marinheiro da gávea nota plantas em suspensão na água.
- Capitão, estou vendo sinais de terra.
O capitão se agita, os marinheiros se ajeitam, esperando as palavras mágicas que viriam lá de cima, do cesto da gávea. Queriam colocar os pés em terra firme e comemorar o fim da luta contra o mar tenebroso. E as palavras vieram, alegres e soltas, misturando-se ao marulhar da água batendo no casco do navio.
- Terra à vista!
Enquanto o espanhol já enxergava as terras brasileiras em 26 de janeiro de 1500, o português ainda estava aprontando a maior e mais cara esquadra já montada para conquistar os mares nunca dantes navegados. Demorou, mas no dia 9 de março de 1500, do porto do Restelo, a frota zarpou.
Cabral navegou, e com apenas oito dias de viagem, próximo ao Arquipélago de Cabo Verde, enfrentou sua primeira tormenta. Era tão forte que uma das naus, com 150 homens a bordo, foi engolida pelo mar. Cabral continuou navegando e no dia 21 de abril, os marinheiros avistaram um tapete de algas e algumas gaivotas sobrevoando por perto.
- Veja, capitão, algas e gaivotas, estamos perto de terra.
O marinheiro da gávea também estava atento. Desencostou a luneta telescópica do olho, fez cara de alegre surpresa, ajeitou-a novamente no olho, sorriu. Era o entardecer do dia 22 de abril de 1500, quando avistou a Bahia.
- Terra à vista!
Deixemos o português, voltemos ao espanhol, que havia fundeado a uns seis ou sete quilômetros da costa de Pernambuco e assestado a luneta, mais uma vez, para a praia. Mandou um de seus capitães com seis marujos num escaler para reconhecer a terra e implantar nela os marcos da coroa espanhola.
- Capitão, o senhor sabe que estamos numa área destinada aos portugueses, não sabe?
- Sei. Mesmo assim vou marcar esta ilha que acabamos de achar, como pertencente ao reino de Espanha.
Mal os marujos desembarcam do escaler, um pequeno grupo de nativos, com cara de poucos amigos, vai se formando ao longo do limite entre a floresta e a praia. O inevitável confronto deixa os espanhóis em desvantagem, mas devido às melhores armas, conseguem afugentar os nativos de volta para dentro da mata, enquanto eles próprios voltam rápido para o navio.
Pinzón, novamente navegando para o norte, seguindo a linha da costa, encontra o Arquipélago de Marajó e, de lambuja, a foz do rio Amazonas.
- Essas ilhas contêm um povo feliz pela fertilidade do solo, gente mansa e sociável, mas não têm ouro, nem prata”.
Pinzón se decepciona com a Ilha de Marajó e segue viagem Amazonas acima, admirado com a extensão daquelas terras e águas.
- O que será esse barulho?
E eis que os tripulantes espanhóis tomam conhecimento da pororoca, além de notar que agora estão navegando por um “curso d’água tão monumental que só poderia nascer em vastos montes e que precisaria percorrer enormes distâncias para se tornar tão poderoso a ponto de adoçar o mar”.
A frota espanhola continua avançando pelo imenso caudal, cujas margens, reparou Pinzón, são densamente povoadas”.
As vozes de papagaios periquitos e outros pássaros, além de macacos em profusão, metem medo na tripulação com sua algazarra, porque “os cantos dos pássaros que vêm da floresta são assustadores”. O espanhol levou dessas margens “densamente povoadas”, uns trinta e cinco escravos, pois outros tesouros não encontrou.
Voltando aos portugueses, um dos capitães de Cabral foi fazer o reconhecimento da terra. Chegando à praia, a bordo de um escaler com outros marujos, presenteia os nativos com um gorro vermelho, uma carapuça de linho e um chapéu preto. Em troca, ganha um cocar de plumas e um colar de contas. "Eram pardos, todos nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse as vergonhas, traziam nas mãos arcos e flexas".
Os espanhóis não reclamaram aquelas novas terras onde plantaram os seus marcos de descobridores, porque era necessário cumprir o Tratado de Tordesilhas.