A Curva - BVIW
Voltava a passos lentos todos os dias ao cair da tarde, o sol ainda escaldante reverberando na estrada de terra. Enxada no ombro, chapéu descaído na fronte, camisa empapada de suor. Coração apressado, porque numa das curvas do caminho, junto à interminável cerca de arame farpado, ela estaria a postos. Ela e seu vestido branco vaporoso. Ele ergueria o chapéu com mão trêmula, diria "tarde, moça" e ela devolveria o cumprimento na forma de um sorriso cheio de palavras escondidas. Muitas tardes ele atravessou em aflição para vislumbrar aquele rosto e aquela brancura de vestes, até se sentir completamente rendido. O comportamento mudou, ficou mais avoado, esquecia as coisas, abandonava o capricho que sempre tivera com a roça. E, claro, vieram as perguntas da família, dos amigos, dos conhecidos. "Está doente?" "Com algum problema financeiro?" E ele negava todas elas. Até que o peito ficou tão repleto de amor, que ele se confessou para o melhor amigo. Morrendo de curiosidade, esse implorou para que seguissem juntos numa tarde qualquer. Queria conhecer a dama que arrebatara de tal modo o coração do amigo. E à medida que caminhavam em direção à interminável cerca de arame farpado, o coração dos dois acelerava de ansiedade pela visão da mulher. Mas ao chegarem à curva do caminho, no ponto onde ela invariavelmente sorria o seu sorriso cheio de palavras escondidas, só encontraram um majestoso ipê branco, no auge da sua esplêndida floração.