Saulo resolvera atravessar o deserto e, foi quando conheceu sua primeira miragem... A ilusão ótica capaz de nos fazer acreditar em coisas metafísicas por conta da refração e reflexão da luz, seja diante temperaturas muito quentes ou muito frias. A luz intensa e vívida vinda de cima incidente numa monte de areia que agora parecia perolada. E, seu enigmático brilho fazia imaginar um oásis, com águas límpidas e azuis. Saulo estava sedento e, mesmo o fato da água estar salgada não lhe inibia a vontade de beber... Aquela miragem quebrava um pouco a imensa solidão que é estar no deserto, com horizontes plenos e infinitos. E, nós, reles mamíferos imaturos a tentar sobreviver naquele ambiente impróprio. Saulo pertencia a Legião Estrangeira onde utilizava seu saber militar e bélico para quem melhor lhe renumerasse. Vidas, lutas ou causas pouco valiam... o que importava era sobreviver mais um dia, eliminar possíveis inimigos e saciar uma sede quase infinita. Somos todos estrangeiros e escrevemos no diário da história, nossa existência... Porém, alguns personagens só narraram reticências e lacunas... O que me fez lembrar Shakespeare: "E, o resto é silêncio..." Sabemos muito pouco uns dos outros, somos dotados de visões e versões muito diferentes uns dos outros...  Saulo, no seu afã, sonhava com o oásis, mas permanecia no deserto munido com sua solidão de aço. A sua sede era de vida e até passava pela água...

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 31/10/2023
Reeditado em 31/10/2023
Código do texto: T7921231
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