EULÁLIA, MEU GRANDE AMOR DO PASSADO

Ela passou tão rapidamente que mal deu tempo para identificá-la com precisão, mas o seu sorriso era único, jamais percebi alguém oferecer um sorriso igual ao dela. Só aquele sorriso, num rápido olhar, deu para procurar no meu computador cerebral a imagem dela e bateu a informação recebida em poucos segundos. Não tinha a mínima condição de erro, o cérebro não falha. Era ela.

Procurei por mais detalhes da sua vida, afinal muitas décadas haviam se passado, cada informação nova ia chegando, tudo ia se encaixando com perfeição. Meu cérebro estava me ajudando muito, tantos anos decorridos e ele me dando informações concretas. Eu estava envolvido em uma sensação de felicidade, de uma alegria nunca vista em mim. Não cabia em mim de tanta felicidade.

Naquela mesa de bar, em pleno calçadão, de frente para o mar, recebendo o carinho da brisa, tomando uma cerveja estupidamente gelada, eu a vi passar, virar ligeiramente o rosto e me olhar. De acordo com as minhas pesquisas mentais deduzi que não poderia ser outra senão Eulália. Sim, era ela, eu tinha absoluta certeza. Mas ela não parou, talvez estivesse apressada, também não me deu tempo de abordá-la dada a surpresa que se abateu em mim, mais precisamente em meu coração. Fiquei como que paralisado, abobalhado, talvez pensando tratar-se de uma imaginação de minha cabeça. Terá sido isso mesmo? Será que não foi Eulália? Mas ela ainda ia adiante, talvez desse tempo de alcançá-la, de questioná-la e saber o motivo de não ter parado para que eu pudesse cortejá-la como antigamente, esse era o meu costume que muito a agradava. Era bom para nós dois.

Tomei um gole da cerveja e me levantei, olhei adiante, aquele vulto um pouco distante caminhava agora devagar, não tinha mais pressa. Queria chamar, gritar seu nome, fazê-la entender que eu queria vê-la de mais perto, me deliciar olhando o seu sorriso único. Mas não o fiz, deixei aquele semblante continuar caminhando rua afora, até que sumisse de vez. Meu coração palpitava, não aceitava essa minha decisão, mas Eulália, de repente parou e resolveu voltar. Sorri satisfeito, agora tudo se esclareceria, enfim eu ficaria frente a frente com Eulália, meu grande amor do passado e sabe-se lá porque o nosso amor não vingou.

Lá vinha ela, agora bem devagar, passaria novamente pela frente do bar onde eu estava. Sinceramente, aquela felicidade que eu sentia tomou proporções maiores, eu não me contive e tomei o restante de cerveja que tinha no copo, deixei uma nota sobre a mesa fazendo um sinal para o garçom e fui em direção a Eulália, que já se aproximava. Estava tão atordoado que não percebi que não existia mais aquele olhar, aquele sorriso e isso me deixou triste, meu semblante mudou completamente. Diante de mim não estava Eulália e sim uma desconhecida que ficou surpresa com a minha repentina abordagem. Fiquei sem entender nada. Ela, um tanto sem jeito, perguntou o que eu desejava e eu não soube o que responder para aquela bela jovem. O que eu desejaria mesmo, um velho de 74 anos, com aquela senhorita? Pedi desculpas e me afastei.

Moacir Rodrigues
Enviado por Moacir Rodrigues em 27/10/2023
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