REI POR UM DIA

REI POR APENAS UM DIA

Quando eu tinha 12 anos, para a minha surpresa e alegria, assim também da minha família, fui escalado por uma professora de arte para integrar o elenco de uma peça teatral, cujo tema seria o NATAL, mais precisamente, abordando a visita dos três Reis Magos ao recém-nascido Menino Jesus.

Logo na primeira reunião para explicar sobre a escolha dos personagens, ou seja, qual o papel que cada ator mirim iria interpretar surgiu um imprevisto desagradável, mais precisamente, um desentendimento que poderia ter sido evitado, caso a professora em questão tivesse moderado no seu modo de falar e evitado ofender a minha pessoa, que por pouco ficaria fora daquela encenação.

Tudo bem que a minha cor não é branca e como descendente de índio tenho uma pele morena e cabelos lisos, portanto nunca imaginei ser humilhado ou menosprezado com ar de deboche e humilhação, ao ser chamado de negrinho. Aquilo me pegou de surpresa, ofendendo-me na minha ingenuidade infantil, fazendo com que respondesse à autora daquilo com uma grosseria e também ofendendo-a, chamando de amarela e tudo o mais.

Evidentemente que este imbróglio foi passageiro e logo ela começou a nos explicar cada função com menos arrogância. Em síntese: dos três reis magos: Belchior, Gaspar e Baltazar, eu fui escalado para interpretar este último, que era o mais escurinho dos três. Entregou-nos, literalmente os respectivos papéis para que decorássemos o texto e logo começamos a ensaiar a peça natalina. No tempo adequado ela foi encenada conforme o combinado e ensaiado. E o desempenho de todos saiu ao agrado da organização do evento natalino.

Não precisa nem dizer que aquele litígio que ocorreu com a professora e eu, simplesmente sobrou pra mim, pelo menos em pouco tempo. Pois ao tomar conhecimento disto, a minha mãe não gostou nada e me castigou ao seu modo, sempre me orientando a respeitar os mais velhos, mesmo achando que eles erraram em ofender ou humilhar primeiro. E falou uma coisa que jamais esqueci: “Se sofres injustiça, cala-te; a verdadeira desgraça é cometê-las”.

Mas como se sabe que tudo que se faz nesta terra, mais cedo ou mais tarde, aqui também se paga, posso apenas mencionar que, mesmo sem desejar nenhum mal àquela professora que me humilhou, conforme o tempo foi passando e num futuro próximo ela começou a namorar um homem de pele mais escura do que a minha. Resultado: a sua filhinha também veio ao mundo com a mesma cor do pai.

JOBOSCAN
Enviado por JOBOSCAN em 22/10/2023
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