Aqui e...
Ele voltou àquela igrejinha. Ele voltou por causa do “aqui e agora” dito por um pregador daquele domingo passado. Agora sentou-se na primeira fileira e tentava achar aquele jovem pregador do “aqui e agora”. Não o avistava. Deram-lhe uma bíblia. Enquanto não começava a pregação folheou o livro sagrado. Perguntou se teriam um exemplar eletrônico para que pudesse fazer uma busca rápida por tema específico. “Diga o tema.” Disse uma senhora de coque no cabelo segurando uma bíblia surrada. “Aqui e agora”, respondeu de pronto. “Como?”, “Aqui e agora.” “Não, filho, isso não é um tema. Olha, tem que ser algo assim: salvação, pecado, jejum, oração, entende?” Tentava em vão encontrar o jovem pregador, pois assim que o visse o interpelaria. “Morte.”, “Ah, sim, isso é um tema.”, “Sim, mas não é a morte, mas o escapar dela, assim, o aqui e agora, pronto, sem morte, viver eternamente.”, dizia ansioso e atropelava as ideias. “Ah, entendi”, sorriu a mulher, “entendi, vida eterna, eis o tema principal. Olha, se você aceitar Jesus como seu salvador terá como promessa a ressurreição e a vida eterna.”. “Como assim?”, inquiriu. “Bem, depois que morrermos…”, interrompeu a mulher, “Como assim, depois de morrer? E o aqui e agora?” Estava ficando nervoso e nada do jovem pregador. “Olha, silêncio, o pastor vai nos trazer a palavra, preste atenção e entenderá.” O pastor era um velho, lento, prolixo, cansativo e nada daquele jovem pregador de boas novas. Ficou atento, mesmo assim, esperando o ápice do sermão, que não chegava, não vinha o “aqui e agora”, “Que inferno!”, quase disse alto, se conteve, olhou para a senhora de coque que lhe sorria com ternura, a igrejinha cheia de olhos cansados, mãos cansadas, vidas cansadas e nada do “aqui e…”