Rutherford
Marie foi designada como enfermeira do senhor Ernest.
Ernest foi um físico de nascimento neozelandês altamente condecorado, insigne e extremamente qualificado. Naquela altura de 1937, já havia sido premiado com importantes medalhas, inclusive o Prêmio Nobel de Química, dados os resultados experimentais para o maior rebuscamento sobre as estruturas atômicas da matéria. Por conta de uma hérnia, tornara-se um paciente com pouca mobilidade na vida, demandando integralmente de uma enfermeira para as atividades quotidianas.
Marie não conseguia entender como um homem tão genial e tão reconhecido como tal podia apodrecer na velhice. A idade chega e castiga a todos que resistem, mas ele era um dos poucos que poderia usufruir da sua história em vida. No seu último outono de vida, ela o indagou acerca disso.
- Doutor...?
- Não precisa se constranger em perguntar, minha filha. Sei o que queres saber. Obviamente é a única dúvida que um moribundo com um Nobel pode suscitar. Ser premiado eleva bastante a moral por um exíguo período de tempo. Mas depois o que sobra é descobrir que mesmo o topo não expunge a miséria humana, e mesmo assim apenas uma casta selecionada consegue chegar lá.
Marie se calou. Ernest morreu em outubro daquele ano, levando consignado consigo a honra dos seus prêmios e o rancor que eles lhe reservaram.