O MONGE DA MONTANHA

Certa vez, um homem inglês, que sofria de ataques de raiva extrema, ouviu falar de um monge que vivia na montanha Hikma, no Egito.

Este homem inglês, querendo aprender a ser manso e pacífico, pois a raiva já lhe havia tirado as coisas mais importantes da sua vida, decidiu empreender a viagem e encontrar-se com o monge.

Para chegar à montanha de Hikma não seria fácil. Havia um extenso deserto que se colocava entre qualquer viajante e a montanha que o monge morava.

Assim que chegou no Egito, o inglês alugou um camelo e contratou um guia para ajudá-lo a não se perder nas areias do deserto.

Foram vários dias enfrentando o sol escaldante e o cansaço. Durante o percurso, o inglês e o guia foram cometidos por inúmeras tempestades de areia. Para chegar à montanha Hikma, o viajante provou de adversidades infernais.

Após muitos empecilhos e complicações, o inglês chegou ao pé da montanha.

— Irei te esperar aqui. — Disse o guia.

O inglês se equipou e iniciou sua escalada. Sua pouco experiência na atividade, o fez demorar um dia inteiro.

Quando alcançou o topo, estava exausto. Ele deitou-se de costas e respirou, muito ofegante. Seu consolo foram as belas estrelas que reluziam sobre suas vistas. Ele estava no topo, havia enfrentado um turbilhão para chegar até ali. Ele sorriu admirado. Enfim, se livraria da sua raiva e poderia viver uma vida de mansidão e calmaria. Ele queria, a partir de agora, acalmar a tempestade que habitava dentro dele.

Após recuperar um pouco suas forças, levantou-se e andou para uma pequena cabana que ele viu a uns cem metros de onde estava.

Bateu na porta e um homem baixo veio lhe atender:

— Qual o motivo dessa visita? — perguntou o monge.

— Quero que me ensine a não ter raiva! — disse o inglês, categórico.

— O que o leva a querer tal desejo?

— A raiva tomou todo meu tesouro. Perdi patrimônios e afastei as pessoas que me amavam.

— De onde você vem? — quis saber o monge.

— Venho de Londres, Inglaterra.

— Veio de muito longe.

— Sim, eu vim. Vai me ensinar? — o inglês perguntou, ansioso.

— Não há nada para lhe ensinar. — O monge fez uma reverência e voltou para dentro da cabana.

O inglês ficou possesso e começou a esmurrar a porta. Ele usou tanta força que a madeira trincou em alguns pontos. Ele enfrentara muitos desafios para estar ali. Ele passou pelo inferno e foi sumariamente rejeitado.

O homem de Londres derramou lágrimas de frustração enquanto descia a montanha. Como o monge pôde rejeitá-lo? Ele faria qualquer coisa para poder ser um novo homem.

Quando chegou ao pé da montanha, ele mal ouviu uma voz lhe dizer:

— O primeiro passo para conter a raiva, é saber o que fazer quando a frustração aparece.

Era o monge quem falava.

O inglês ficou perplexo, abriu a boca e a fechou. Após passar o choque, falou:

— Como chegou tão rápido?

— Essa montanha é minha casa, eu sei seus segredos. Eu vou te ensinar, você se demonstrou determinado.

O inglês morou na montanha por três anos.

Conforme ele foi trabalhando suas emoções com o monge, ele compreendeu que sua raiva fazia parte de quem ele era. O inglês aprendeu que ele não conseguiria eliminar sua raiva, mas sim aprender maneiras produtivas de usá-la.

Quando o homem voltou para Londres, conseguiu restituir tudo que perdeu. Não foi rápido e nem fácil, mas ele agora se entendia e conhecia as forças que despertavam seus sentimentos.

Para chegar a esse caminho de compreensão de seus sentimentos e de seus desejos mais sombrios, foi preciso tocar em muitas feridas, em experiências desagradáveis de seu passado.

Foram longos anos para chegar à cura de sua alma, mas ele sabia que havia valido cada segundo de dor.

Felipe Pereira dos Santos
Enviado por Felipe Pereira dos Santos em 13/10/2023
Código do texto: T7907613
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