_ Nada de palavras em torrentes caóticas sobre a vida! - rebateu ela, de primeira.
_ Leio o que a minha página pede.
_ Então conto eu, pois que se prologuem as minhas palavras de modo onde tudo pode ser fantástico.
_ As fadinhas? Não. Dispenso.
_ É sobre uma horta inacabada...
_ ? Ok. Mas que se aja, tanto quanto possível. Sem enrolações.
_ Mas é uma história que começa com uma horta...
_ Mas tudo é planta na sua cabeça.
_ Mas é de se apaixonar a história.
_ Se desapaixonar.
_ É a hera que cobriu o quintal.
_ Cai na real.
_ A página é minha ou de quem?
_ É a minha vez.
_ Então conta. Eu só quero ver!
_ No meu livro, a espinha da palavra é lutar ferozmente.
_ Para variar...Tem rio?
_ Invisível.
_ E está com pássaro na história?
_ Perdeu o canto.
_ Oi?
_ Perdeu o sentir.
_ Poxa, até que isso foi bonito. Continue.
E o tempo passou no balanço de cada página, folhas lúcidas, e da gravidade de todas as palavras, ela...
_ Mas se tivesse uma horta, uma hera teimosa, como se diz, que está em toda parte...
_ Mas é para não estar em lugar nenhum.
_ ?
_ A horta. - disse ele.
_ O quão difícil é para você conceber uma horta aí na sua história?
_ Qual a razão de uma horta aqui nesse livro?
_ Ela pode preencher abismos terríveis! E virar flor.
_ Está bem! Quanto de horta? - concedeu ele.
_ Uma que caiba um tamanho de flor.
_ Uma só!
_ E um pouco mais de lírios, e rosas, margaridas, gérberas, se tiveres...
Percebeu que das páginas secas de jardim, muitas outras palavras floresceram. E o que antes era mera história, virou existência.