CORAÇÃO ESCRAVO
Guilherme não dormiu direito nessa noite, estava impaciente, seu coração ainda se encontrava acelerado (que troço esquisito!). Altas horas da noite e ele acordado, porém isso não o incomodava, rezava para que o dia seguinte chegasse logo para poder ver aquela que abalou seu pobre coração. Dalva agora estava definitivamente em seus planos, seu coração ninguém mais o ocuparia, esqueceu Rosinha, Luciana e uma outra que nem sabia seu nome, estava dividido entre as duas primeiras apesar de nunca ter chegado perto sequer de alguma delas, era apenas um desejo. Dalva ele já conhecia, estava sempre por ali nas imediações da praça que ficava em frente a sua casa, o que lhe causou surpresa foi ela lhe dirigir a palavra e cortejá-lo, parecia uma oferecida, diferente das outras, mas isso o deixou envaidecido. Ele nem esperava por essa ação dela, achava impossível, mas um "milagre" aconteceu e ele resolveu não desperdiçar essa grande oportunidade. Não rolou nada de especial, nenhum beijinho, apenas um toque das mãos dela em suas mãos, o que o fez estremecer, além de uma promessa de conversarem no dia seguinte.
Enfim o dia raiou, Guilherme conseguiu dormir algumas horas, apesar de ficar despertando algumas vezes. Levantou cedo e fez sua primeira refeição, depois foi até a praça, era um sábado, imaginou o seu fim de semana ser diferente dos outros, que achava um tédio. Dessa vez prometia. A manhã passou e nem sinal de Dalva, esperou pela tarde e nada. Arrumou-se todo depois do jantar e ganhou a praça, lá ficou no mesmo local onde ela lhe deu a "cantada". E ela apareceu para seu espanto. Dalva estava ali, diante dele, toda produzida. Guilherme sorria de tanta felicidade. Um olhar enigmático e sua mão oferecida para ele que a pegou e beijou delicadamente. Alguns minutos somente olhando aquela garota linda lhe dando atenção, nem estava acreditando, poderia estar sonhando, pensou. Mas não era sonho não, era real, ele estava ali na praça segurando sua mão. Dalva estava realmente interessada nele, deduziu. Sentaram em um banco e ficaram conversando coisas triviais, mas de vez em quando lhe vinha aquele desejo de beijar aquela boca carnuda, mas se conteve, poderia espantar a pretendente e estragar tudo. Aguardou ansiosamente essa oportunidade que não tardaria.
A lua clareava aquele casalzinho simples, a conversa estava animada, mas a impaciência estava dominando ele, então resolveu aproximar seu rosto do dela e nenhuma reação contrária observou. Pronto, ia ser agora. Chegou bem mais perto e encostou seus lábios nos dela, que se manteve imóvel. A emoção tomava conta dele e o beijo enfim foi aceito por Dalva, que também não se conteve e se entregou a ele. Pronto, Guilherme poderia dizer que estava namorando e com uma garota linda e como ele desejava. Estava totalmente apaixonado. A noite já se adiantava e ela precisava ir para casa e como um bom cavalheiro ele a deixou na porta de sua casa. Um beijo demorado e a despedida com um "até amanhã" que foi confirmado por ela.
Os dias se passaram e Guilherme e Dalva se firmaram como namorados, ele estava se sentindo nas nuvens, ela feliz com esse relacionamento, mesmo ele sendo um rapaz pobre, porém trabalhador. Ele com 29 anos e ela com 28, com muito tempo pela frente, resolveram aproveitar a vida. Passeios, festas, praia, nada impedia eles de se divertirem. Amigos arranjaram um montão, afinal quem tem vida social agitada passa por isso.
Deixaram o tempo seguir em frente e dois anos depois noivaram, casando dois anos mais tarde. O primeiro filho chegou quando já tinham quase cinco anos de casados. Até então ia tudo bem, mas depois do nascimento de Rebeca as coisas começaram a mudar. Aquela criança moreninha, aos dois anos, não batia com a cor da pele de ambos, que era branca. Veio a desconfiança e a inquietação de Guilherme, que tentou argumentar com a esposa, que a princípio negou, mas depois, com a pressão da família, descobriu-se que fôra fruto de uma infidelidade. Sem ânimo e decepcionado resolveu separar-se de Dalva e o casamento de vários anos teve fim. Fez isso mais por imposição da sua família.
Quase três anos se passaram e Guilherme não arranjou outra mulher, seu pensamento se concentrava na ex-esposa, gostava dela e pensava em reatar o casamento, mas ela já estava com outro, o homem que seria a pai de Rebeca, oficialmente sua filha, porém o sangue era de Carlos, um dos amantes de Dalva, segundo descobriu depois. Mas essa mulher não lhe saía da cabeça, faria tudo para voltar a tê-la de volta, mesmo depois de tudo que aconteceu. Ela até tentou, voltou para ele, que alugou um pequeno imóvel para viverem juntos, mas durou pouco tempo, Dalva voltou para o pai de Rebeca, que lhe dava uma vida melhor e mais confortável. Guilherme passou a sofrer e insistia pelo seu amor, praticamente implorando. Quando ela queria incentivava ele a irem para um motel, no que ele atendia prontamente, outras vezes se encontravam às escondidas no pequeno imóvel onde ele residia. Isso era muito pouco para Guilherme que não se contentava com essa migalha, queria ela somente para si, no que Dalva não aceitava, até que desistiu de vez de se encontrar com ele. Sem ver Dalva, que preferiu o outro homem, nosso personagem passou a sofrer demais, chegando ao ponto de não se alimentar direito, o que preocupava seus familiares. Tentaram alertar que essa mulher não servia para ele, aliás, nunca serviu, pois desde o tempo de namoro, segundo pesquisaram com amigos dele, que Dalva sempre foi infiel e a prova é a própria filha que ele registrou, pois não tinha o seu sangue.
Alguns anos se passaram, Guilherme definhava a olhos vistos, emagrecera muito, teve que ser internado devido a problemas emocionais que abalaram a sua saúde. Um certo dia quando convalescia no hospital revebeu uma visita inesperada: Dalva ali estava com a filha, queria vê-lo. Ao perceber a sua presença Guilherme não se conteve e teve o ímpeto de abraçá-la. Ela se deixou abraçar e a menina o chamou de pai fazendo-o cair em prantos. A família dele não aceitava sua ex-mulher, mas ao vê-lo feliz com aquele encontro resolveu ficar quieta. Dali em diante ele teve uma considerada melhora. Ela falou que o companheiro e pai de Rebeca havia falecido e que estava então sem ninguém. Diante dessa situação pediu a ele para voltar, o que nem precisava, ele era quem pedia isso. Agora, com o coração em paz esse homem passou a se alimentar bem e ter a sua família dando um certo apoio ao reencontro.