Sono
1 - Qual seu nome?
2 - O que é você, um fantasma?
1 - Às vezes, mas costumo ser confundido como Espírito.
2 - Ah…
1 - Qual seu nome?
2 - Nome? Não tenho.
1 - Ora, mas passa o tempo dando nomes aos seres e não tem nome?
2 - É mais fácil dar nomes a eles do que a si mesmo. Todos os seres têm um duplo, então os comparo. Sem duplo, sem nome. Você também não me parece ter um duplo, tem nome?
1 - É verdade. Não tenho um duplo, mas tenho um contrário, um anti-Eu. Nada se parece comigo, nada é de minha natureza. No entanto, por causa do meu antagonista me intitulei o Eu Sou. Pode me chamar de Eu Sou. Meu antagonista está morto e não é mais, então sou seu eterno contrário.
2 - Entendi. Eu acho que eu também não tenho um contrário, mas apenas colaboradores. São de outra natureza e nem sei suas procedências. No entanto, eu os olho e algo me faz colocar-lhes nomes. Sinto mesmo certo prazer. É, é isso.
1 - Entendo. Mas você precisa de um nome. Todas essas criaturas que você nomeia ganham significado existencial. Deixam de ser meras criaturas e se tornam nobres, com nomes e sobrenomes, espécies e famílias, filosofias e culturas, sonhos e ideais, entende?
2 - Entendo. Mas não sou capaz, paradoxo, não?
1 - Ironia.
2 - Sim.
1 - Posso tentar alguma coisa?
2 - O quê? Alguma magia?
1 - Não, mas algo novo.
2 - Novo?
1 - Sim. Algo que você ainda não experimentou.
2 - Sim…
1 - Confie em mim, feche os olhos, solte o seu corpo, calma, isso, calma, não tema, isso não é o fim, mas uma breve parada, chamo de sono, durma, isso, não resista, durma, filho…