O Meu Nome é Cala a Boca (Conto de Minas)
Meu nome é Cala a Boca
Pendurado no canto da parede, era exibido pelo então proprietário, bisneto do artesão, que orgulhoso apontava sorrindo, para o chicote de couro trançado, cabo em prata polida, esculpido no formato de um peru, dizendo: o nome dele é CALA A BOCA!
O bisavô, artesão de grande conceito, era artista também nas conquistas amorosas, favorecido por ser um grande e poderoso fazendeiro, em um tempo que, querer era poder, quando respeitar a propriedade alheia não era um costume para muitos, e aí se incluía também o respeito à mulher do próximo.
Esse fazendeiro comprou, até onde se sabe, pois tomar ou grilar terras também era bem comum, uma fazenda muito grande, antiga, que ainda tinha muitas marcas da escravidão negra, com senzala ainda conservada.
A fazenda era um tanto distante do seu lugar de origem. Oitenta quilômetros, no tempo que transporte rápido era o cavalo, era sim uma distância considerável. Por tal razão, mudou-se para lá com todos os seus nove filhos, a maioria já casados e com filhos.
Dizem que a distância influenciou no declínio da produtividade da propriedade, face aos desentendimentos entre os familiares, uma vez que muita gente ficou longe de sua família raiz. No entanto, dizem também, que a principal razão do fracasso que aconteceu, se deu em virtude da preguiça que reinava sem exceção. Ninguém era da lida, nada ou quase nada era feito, na produtividade ou na conservação da propriedade. Como consequência, aos poucos os filhos com suas famílias, foram retornando para de onde vieram.
Talvez a razão do êxodo total, não seja por outros motivos que não o causado pelo chicote CALA A BOCA.
Não se sabe ao certo qual a verdade, se foi com a mulher ou filha de alguém que o fazendeiro se aventurou ou pretendeu se aventurar, o caso é que apareceu na fazenda, aquele homem, também fazendeiro na região, para tirar satisfação sobre alguma ocorrência, tendo tomado uma surra descomunal, perto do fatal. O chicote Cala a Boca foi o instrumento utilizado na tal surra. Surra que traduziu a supremacia do bisavô, justificando o riso orgulhoso do bisneto, ao apontar para o chicote, para o chicote Cala a Boca.
O Cala a Boca, cumpriu ali o seu papel diretamente, no entanto, indiretamente direcionou os acontecimentos seguintes, cujo final, marcou a família, por um de seus entes, que por gerações é lembrado o seu nome, por uma maioria que nem o conheceu.
A surra exigia vingança! O filho do surrado pretendeu executá-la, indo até a fazenda. Jurou de morte o fazendeiro. O genro do fazendeiro, portando uma arma de caça, apontou-a para o rapaz, que (dizem) abriu a camisa, desafiando-o: - atira se for homem! O tiro aconteceu e a morte também.
A Fazenda do Serrote, foi vendida por qualquer dinheiro, a necessidade urgente de fuga, determinou o valor.