Eu, Canibal

Uma noite como tantas outras. Estou à caça de alimentos pra satisfazer minha fome. Há presas de todos os tipos nesta cidade sombria e decadente.

Pensar que esta terra já foi forte e pujante, a ponto de ser intitulada Princesa do Sul. Mas agora é um enorme zoológico humano com carnes de todos os sabores. Há as carnes nobres até as gordurosas que mal dá pra comer.

Outras nem cachorro come. Já estou chegando na Praça Coronel Pedro Osório em busca de carne nova já que a geladeira está quase vazia. Vejo um casal se beijando e abraçando na frente da Fonte das Nereidas, vários transeuntes andando no Mercado Público e outros participando de um pagode animado no Boteco perto dali. Mas não encontrava a vítima ideal. E não poderia nem pensar em fracasso, senão ou aquele miserável do Nêmesis apareceria para me capturar como fez anos atrás ou aqueles malditos vigilantes chamados Defensores de Pelotas acabariam com minha festa em segundos.

No entanto, tive um golpe de sorte. Encontrei perto da Biblioteca um rapaz grande e másculo com carnes suficientes pra saciar-me por um bom tempo.

Ele acendeu meu fogo inferior e já estava afiando minhas armas para o corte preciso.

Tudo que tinha a fazer é chegar mais perto e conversar um pouco com ele. Os céus foram benéficos comigo ao concederem-me a arte da oratória.

Conversa vai, conversa vem e já estava com água na boca por aquele rapaz. Mas precisava esperar a hora certa pra jantar.

Descobri que ele era fã de música clássica e o levei pra minha mansão no Laranjal afim de mostrar minha coleção de Bach, Beethoven e Mozart. Leopoldo estava de folga assim como Savanna, Diana e Cristina que estavam se divertindo nas boates próximas a Católica.

Estávamos sozinhos. Preparei os petiscos a ele em busca do momento certo pra degustar o prato principal. E o infeliz estava tão absorto com as tocatas de Bsch que nem sentiu o mundo cair na sua cabeça. Com o perdão do trocadilho, ouvi um baque seco e meu jantar estava no ponto.

Cortei-o em fatias com a peixeira que herdei do meu avô e o mais grosso usei a espada que pertenceu a Mori Ranmaru, o braço direito de Oda Nobunaga. Dizem que morreu junto com seu mestre naquele traiçoeiro incidente de Honnoji feito por Mitsuhide Akechi em 1582.

Depois preparei uma carne ao molho vermelho assado ao forno. Peguei um vinho tinto na adega e satisfiz minha fome com uma sofisticação digna de Rei Charles com Bach como trilha sonora.

Guardei partes dela na geladeira e separei o restante para os bares e restaurantes do Laranjal além do Asilo de Mendigos. Pedirei a Leopoldo leva-las assim que voltasse da folga.

O jantar foi magnifico e agora preciso dormir o sono dos justos.

Porque amanhã teria muito trabalho a fazer na subprefeitura.

E um bairro a administrar.

MarioGayer
Enviado por MarioGayer em 23/09/2023
Código do texto: T7892555
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