Dor solitária
Ele amarra o sobretudo. Mãos nos bolsos e se encolhe para se proteger do vento. Quando ele entra no bar as pessoas sentem frio. “Estranho... O ar esfriou de repente” dizem.
Bebe uma generosa dose de Bourbon. Bar está cheio, ele se isola em um canto. Sua aparência melancólica e os olhos tristes não atrai o interesse de ninguém. Melhor assim, ele se acostumou a isso.
Na terceira dose dupla, pensa na sua vida e na merda em que entrou. Pensa na mulher que lhe esbofeteou seu rosto e disse “Me esquece, acabou o amor. Só sobrou a indiferença”.
Aquelas palavras doeram mais que o tapa. Ele não esquecerá o cheiro de jasmins e o velho piano daquele sobrado. “Ao vencedor as batatas” palavras de Quincas Borba que ele entendeu.
Paga a conta e sai. O Ar do bar volta a esquentar quando ele sai. No beco cambaleia até seu carro um Fiat 500 1970. Quando coloca a chave na porta, dois marginais o intercepta.
“Solta às chaves e a carteira ou morre aqui, coroa”. Ele apenas olha para os dois. Um olhar é o suficiente. Largam a arma ao sentir uma dor aguda espetar a bexiga. Nem tentam se mexer. Os olhos de maldades, agora brilham de medo e confusão.
A urina de vocês congelou num formato de agulha. Se mexer pode rasgar bexiga e órgãos. Acreditem ou não, pra mim tanto faz. Ele fala. Sua voz sai vazia, sem qualquer emoção. Não a ódio nem glória. Entra no carro e da à partida. Deixa os dois com medo e imóveis. Será que sobreviverão sem se mexer por uma hora? Pra ele tanto faz. Ao dobrar a esquina, já havia esquecido a questão.
Wesley Rezende