Desencanto
Mulheres fortes e determinadas sempre existiram. Em todas as épocas.
Mulheres à frente do seu tempo.
Olívia nasceu na década de 1910. Criança inteligente, curiosa e perspicaz.
Na escola tirava sempre as melhores notas.
Numa época em que poucas mulheres trabalhavam ela foi trabalhar.
Dentro da empresa encontrou seu espaço e foi galgando cargos
Era respeitada profissionalmente como poucas mulheres na época.
Sua inteligência brilhante sobressaía.
Era chefe querida por saber se impor e ser compreensiva ao mesmo tempo.
Estava sempre com os cabelos impecavelmente penteados e maquiagem discreta.
Com seu inseparável colar de pérolas, brincos e anel combinando, relógio de ouro.
Seus profundos olhos verdes destacavam sua beleza exuberante.
Vestidos elegantes marcavam o belo corpo, sapatos de salto alto completavam o visual.
Com um coração enorme sempre ajudava familiares que precisavam.
Era caridosa e altruísta.
À noite em sua casa, em sua cama a solidão machucava.
Sempre solitária, nunca teve um amor em sua vida.
Poucos amigos, familiares seguindo suas vidas, cada um com suas famílias.
Seu coração escondia segredos inconfessáveis.
Assim ia levando sua vida:
Frustrações
Insatisfações
Amargura
Angústia
Tristeza
Infelicidade
Vazio
Arrependimentos pelo que não viveu
Doença
Morte prematura…
Ele entrou no recinto.
O familiares de Olívia conversavam aqui e ali.
Ele se aproximou do caixão com o corpo de Olívia.
Bem perto de seu rosto falou baixinho:
“Olívia, minha amada! Por que me abandonou assim?
Tão breves momentos vivemos. Momentos de êxtase.
Por que nunca tivemos coragem de jogar tudo pro alto?
Meu casamento, nossa vida tão certinha.
Nossa segurança e a sociedade que nos condenaria.
Por que os casamentos são indissolúveis se o amor nem sempre é eterno?
Tão tarde eu lhe conheci, por que tinha que amar tanto?
Você dizia que era pecado nossos encontros.
Não, era amor e amor não é pecado.
Vou continuar te amando. Sei que um dia vou te encontrar do lado de lá.
E então poderemos viver nosso amor sem limites, sem dimensão. Em liberdade.
Vai para Deus, meu anjo bom. Espere por mim…”
Ele tocou o rosto dela e saiu.
No cemitério, se manteve distante e então chorou, como aprendeu que não devia fazer.
Nunca falou de seu amor pra ninguém e, como ela, levou o segredo para o túmulo.