Vida Simples
Na vila quando o dia amanhecia
Sabiás no alto do taperebazeiro , que ficava atrás do banheiro solfejavam alegria. Em seguida voavam até a popunheira e saiam das vistas quando partiam pra ameixeira. Enquanto minha mãe me acordava tapando minhas narinas, as vezes, falando carinhosamente meu nome ao ouvido.
Com os olhos fechados, seguia nu até a única biqueira de água. Lá ela me ensaboava todo com o sabonete phebo.
Voltava envolto na toalha com um frio a fazer tremer os lábios.Tomava o café, pão com manteiga, guardava a merenda, o q suco com bolacha Maria na merendeira e seguia à escola.
Quando saia cedo de lá , voltava eufórico e já perto do meio dia, começava a sentir os aromas da sopa da dona Clarice, do jabá com arroz da dona Argentina, dos ovos estalados na casa da Raimundinha, da piramutaba lá de casa e do frango frito da casa da dona Marlene.
Faltando qualquer coisa, em casa, na ausência de minha mãe, ainda no trabalho vovó me mandava comprar na taberna do seu Bené meio copo de óleo, uma caixa de fósforo e dois ovos.
No caminho de volta, parava no meio da rua a admirar o Guilherme, meu colega, soltando seu foguete espacial vermelho impulsionado por água, ganhado no último natal. Mais a frente, as vezes, também deparava com o Jorginho brincando na vala, com sua lancha improvisada correndo com um motor de carro a pilha, Euzemar a me convidar pra empinar curica, mas ficava por isso. Até ficava ali alguns minutinhos, farriando o sonho, porque a realidade do momento era deles.
Sem perder mais tempo, rumava pra casa, entregando os pedidos.
Almoçava esperando a tarde nascer pra enquanto a vovó dormir, ir curtir, brincar, inventando qualquer coisa no quintal da dona Julita.
Quando não macaquiava na goibeira, fica deitado sobre as Maria moles, olhando o céu azul, imaginando, formando nas nuvens bichinhos e outros desenhos, enquanto a brisa silenciosa valsava as árvores ao redor.
Quando as seis horas começava, gostava de ver as cigarras pontualmente harmonizarem com os grilos e sapos o seu cantar, que minha avó ousava dizer, que elas iriam dobrar a música até espocar e morrer.Eu ficava pensando naquela possibilidade, que nunca vi acontecer. Até porque elas, as cigarras tem vida longa.Mas enfim, ficava pelo canto vendo uns vaga-lumes, acender e apagar, até o candeeiro iluminar, por imposição da noite e porque, ainda não havia energia elétrica para todos.
Minha mãe chegava cansada do trabalho, eu lhe abraçava e ela pedia pra minha avó dar o meu jantar. Após isso, ia escovar os doentes e vovó assentava-se na borda da rede a me contar as mesmas histórias... das menias e do figueiro, do João e Maria, do macaco e a onça, pra eu, no balanço da rede adormecer.